A trama de “Amnésia” (2015) estabelece uma insólita ponte
entre a Alemanha nazista dos anos 30 e 40 com a ensolarada e hedonista praia
espanhola de Ibiza nos anos 90, simbolizada no platônico relacionamento amoroso
entre Jo (Max Riemelt), um jovem DJ, e Martha (Marthe Keller), uma retraída
senhora de 70 anos, ambos germânicos “exilados” no paradisíaco litoral. O que
poderia adquirir contornos de bizarrice melodramática ganha contornos bem mais
sóbrios e profundos a partir da sutileza da abordagem narrativa do diretor
Barbet Schroeder. A direção de fotografia valoriza com sensibilidade os belos
cenários naturais de Ibiza, mas não cai no mero registro “cartão postal”,
estabelecendo, na verdade, um inquietante contraponto entre essa ambientação
agradável com o passado obscuro de Martha e a ambiguidade de sua relação com
Jo. Outro ponto alto artístico é a maneira como a música se insere no filme,
servindo como uma espécie de elo simbólico a retratar a cumplicidade entre o
par de protagonistas e também o processo de reaproximação existencial de Martha
com o mundo. Nesse sentido, os belos temas eletrônicos da trilha sonora realçam
tanto o particular contexto cultural dos cenários da trama, afinal Ibiza é o
grande ponto de convergência mundial da música eletrônica dançante, como um
certo caráter libertário de “Amnésia” na exposição das relações humanas.
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