O fato da protagonista de “O que está por vir” (2016) ser
uma professora de filosofia se relaciona de maneira sutil com a própria
estrutura narrativa da obra – a forma como a trama se desenvolve apresenta
traços de um caráter didático, por vezes beirando uma síntese entre o
esquemático e o dialético, na intenção de dissecar os meandros da vida
pequeno-burguesa de Nathalie (Isabelle Huppert). Num primeiro momento, são
expostas a contradição e a hipocrisia entre aquilo que é ensinado pela
personagem e o seu cotidiano pessoal e profissional. No segundo momento, o foco
está na dissolução dos pilares conservadores da vida de Nathalie para que ela
possa entrar em sintonia com a natureza libertária do conhecimento ao qual se
dedicou a estudar e propagar. Os truques do roteiro e sua simbologia podem até
aparentar uma certa simplicidade na sua lógica, mas a grande força do filme
está na encenação sóbria e repleta de nuances dramáticas e mesmo irônicas concebida
pela diretora Mia Hansen-Love. Não há maiores concessões sentimentais na
condução narrativa, com a cineasta se atendo a um formalismo de notáveis secura
e objetividade, sem que isso, entretanto, sacrifique o aspecto emocional, que
sempre irrompe com naturalidade e empatia. Colaboram ainda as contidas
composições dramáticas do elenco, com óbvio destaque para Huppert, e a
inteligência do roteiro que ressalta com sensibilidade a complexidade e a força
desafiadora dos principais dilemas da trama.
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