No subtexto da trama de “Ninguém deseja a noite” (2015) há
um forte teor de contestação dos valores sócio-culturais do mundo ocidental. As
obsessões, caprichos e preconceitos da protagonista Joséphine (Juliette
Binoche) sintetizam os interesses mercantilistas e opressores dos países
europeus colonizadores em relação aos países explorados por tais nações, com
tais intenções de dominação sendo mascarados por hipócritas máscaras de
patriotismo, religiosidade e civilidade. O problema do filme é que a
contundência desse discurso temático acaba tendo a sua força diminuída a partir
de uma abordagem narrativa atrelada ao melodrama excessivamente convencional. A
obra da diretora espanhola Isabel Coixet até consegue apresentar algumas belas
sequências em termos plásticos diante de um conjunto eficiente de fotografia e
direção de arte, mas falta uma atmosfera de tensão e violência mais
convincente, que efetivamente consiga prender o interesse da plateia. Coixet se
contenta em enveredar por facilidades narrativas, como uma trilha sonora
pomposa e onipresente e exageros sentimentais, ao invés de apostar num registro
mais sóbrio que conseguiria reproduzir com mais verdade e paixão o eterno
embate entre o indivíduo dito “civilizado” e uma natureza inclemente que não se
rende a uma suposta meritocracia.
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