O diretor italiano Marco Bellocchio mostra em “Sangue do meu
sangue” (2015) que ainda é capaz de deixar as plateias desconcertadas. A trama
do filme se situa em dois planos temporais, passado e presente, e faz uma
reflexão intrincada sobre religião e poder. O viés estético e narrativo flutua
dentro de uma estranha síntese que abarca drama de época, realismo fantástico e
comicidade bufa, situando a obra numa encruzilhada artística-existencial
difícil de precisar. Por vezes, o tratamento formal é tão insólito que faz tudo
beirar o delirante. Bellocchio tem a sensibilidade de conciliar tais elementos
diversos dentro de uma concepção rigorosa de filmar – ainda que a história se
desenvolva por caminhos bastantes livres, em que ambientações solenes convivem
de maneira natural com sensualidade à flor da pele, sempre dá para perceber a
mão do cineasta dando um sentido personalíssimo para a narrativa. Dessa maneira,
alguns truques melodramáticos de determinas cenas aos poucos são envenenados
por uma atmosfera de puro absurdo, característica essa que é bem delimitada na
figura de um chefão mafioso vampiro, que simboliza de maneira sardônica e
melancólica uma certa concepção entre o irônico e o nostálgico de uma tradição
secular decadente. Nesse bizarro jogo narrativo, não importa a existência de um
final convencional que amarre todas as pontas da trama – para Bellocchio,
importa mais traduzir em audiovisual um perturbador sentimento atávico que
marca o imaginário coletivo de seu país.
Um comentário:
muito show o filme
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