quinta-feira, junho 29, 2017

Além das palavras, de Terence Davies ***

É claro que se pode acusar a direção do britânico Terence Davies em “Além das palavras” (2016) de um academicismo excessivo e de uma incômoda previsibilidade narrativa. Por outro lado, sua rigorosa concepção artística também é marcada por uma abordagem emocional sóbria e por uma encenação meticulosa que valorizam as nuances psicológicas e os complexos jogos sociais que marcam o contexto intimista e cultural em que se desenvolve a exposição de alguns fatos reveladores da biografia da poetisa norte-americana Emily Dickinson. É de se destacar também o roteiro que consegue captar com sensibilidade e fino senso de humor toda uma gama temática bastante variada e repleta de sutilezas existenciais, indo da caracterização brutal do patriarcalismo opressor da sociedade ocidental do século XIX até a valorização do poder da palavra literária – nesse aspecto, são notáveis alguns diálogos lapidares pelas suas dinâmicas espirituosas e subtexto de forte caráter contestatório, além da engenhosa forma como alguns trechos expressivos da poesia de Dickinson se inserem na narrativa. Davies também reforça a sua capacidade de extrair atuações memoráveis de seu elenco, com destaque para Cyhthia Nixon no papel principal e Keith Carradine em uma performance sorumbática e repleta de fleuma.

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