É claro que se pode acusar a direção do britânico Terence
Davies em “Além das palavras” (2016) de um academicismo excessivo e de uma
incômoda previsibilidade narrativa. Por outro lado, sua rigorosa concepção
artística também é marcada por uma abordagem emocional sóbria e por uma
encenação meticulosa que valorizam as nuances psicológicas e os complexos jogos
sociais que marcam o contexto intimista e cultural em que se desenvolve a
exposição de alguns fatos reveladores da biografia da poetisa norte-americana
Emily Dickinson. É de se destacar também o roteiro que consegue captar com
sensibilidade e fino senso de humor toda uma gama temática bastante variada e
repleta de sutilezas existenciais, indo da caracterização brutal do
patriarcalismo opressor da sociedade ocidental do século XIX até a valorização
do poder da palavra literária – nesse aspecto, são notáveis alguns diálogos lapidares
pelas suas dinâmicas espirituosas e subtexto de forte caráter contestatório,
além da engenhosa forma como alguns trechos expressivos da poesia de Dickinson
se inserem na narrativa. Davies também reforça a sua capacidade de extrair
atuações memoráveis de seu elenco, com destaque para Cyhthia Nixon no papel
principal e Keith Carradine em uma performance sorumbática e repleta de fleuma.
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