O roteiro e a estrutura narrativa de “Pouco antes do
amanhecer” (1981) podem fazer pressupor que a obra em questão seja mais um
tradicional slasher daqueles que apareciam com frequência nos cinemas nos anos
80. Um olhar mais atento, entretanto, faz com que se perceba que o filme do
diretor norte-americano Jeff Lieberman vai bem mais além. Encenação, direção de
fotografia e edição evidenciam uma abordagem mais minuciosa e quase
contemplativa na forma que delineia situações e personagens e esmiúça a ação. Ainda
que haja os habituais assassinatos sangrentos de jovens incautos em um local
interiorano isolado, não se chega a privilegiar tanto a violência explícita,
com Lieberman se mostrando mais concentrado na elaboração de uma narrativa
atmosférica pautada pela tensão e ironia. É como se o cineasta fizesse uma
releitura mais sardônica do clássico “Amargo pesadelo” (1972) e carregada num
simbolismo ainda mais contestador, principalmente na visão ácida sobre a caipirice
obscurantista do interior dos Estados Unidos e na reverência ao empoderamento
feminino na figura da protagonista que se recusa a permanecer no papel de
vítima inocente e indefesa.
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