Na última edição do FANTASPOA, na sessão em que foi
homenageado pelo festival, o diretor de animações norte-americano Bill Plympton
foi questionado sobre qual teria sido a inspiração principal para a realização
do longa-metragem “Eu me casei com uma pessoa estranha?” (1997). Respondeu que
o seu mote principal na elaboração da produção foi a de que um animador é uma
espécie de deus na concepção de sua obra, em que personagens e toda a
ambientação que os circunda são regidos pela sua vontade. E é justamente essa a
impressão que se tem ao assistir ao filme em questão – é como se Plympton
jogasse na cara do espectador sem nenhuma cerimônia boa parte de suas
obsessões, desejos e diatribes. A trama do filme obedece a uma lógica onírica e
que beira o instintivo, em que vários pilares tradicionais da sociedade
ocidental (família, religião, governo, militarismo) são pisoteados de maneira
inclemente em nome de um ideário libertário. Nessa perspectiva, o sexo e a
imaginação criativa são celebrados como os pontos máximos da expressividade
humana, e como as únicas vias para uma possível transcendência existencial.
Embalando essa expressiva visão sócio-política-filosófica, há um grafismo e uma
narrativa de viés alucinado e beleza perturbadora – ao invés da estética
realista ou de estilização bem-comportada das animações tradicionais dos
grandes estúdios, prevalecem visual e atmosfera delirantes e algo “sujos”,
jogando a plateia dentro de um imaginário síntese entre a contestação e o
lisérgico.
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