As intenções artísticas de Jacques Doillon para a
cinebiografia “Rodin” (2017) até são bem louváveis – ao invés de fazer um
grande “resumão” sobre a vida do escultor Auguste Rodin (Vincent Lindon), o
roteiro se concentra em um recorte específico de um dos períodos mais
relevantes da trajetória do artista, aquele em que ele atingiu a consagração ao
passar a receber encomendas do Estado e também tomou como amante a escultora
Camille Claudel (Izïa Higelin), fazendo com que haja uma reflexão sobre o
eterno dilema da relação entre a vida privada e a arte, no sentido da forma com
que ambas se influenciam, buscando-se ressaltar ainda o caráter libertário e
contestador da atividade artística. Ao mesmo tempo que Rodin foge de vários
padrões de previsibilidade na concepção e execução de alguns dos seus
principais trabalhos, seu hedonismo furioso entra em conflito com os ditames
moralizantes da França do século XIX. A ambição existencial e narrativa de
Doillon, entretanto, não consegue se efetivar de maneira satisfatória.
Encenação, fotografia e direção de arte formam um conjunto correto, mas que
também implicam num certo engessamento narrativo e numa atmosfera de assepsia
visual. Falta uma visão mais sanguínea e suja por parte do cineasta, em que
mesmo quando o filme parte para sequências mais eróticas há a impressão de
comedimento estético no sentido de não provocar grandes choques gráficos, o que
faz demonstrar que o filme não estar em sintonia com a própria natureza da arte
do biografado. Há méritos didáticos em “Rodin”, no sentido de sua
contextualização histórica, mas falta humanismo e ousadia na sua síntese
temática-formal.
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