A premissa principal da trama de “Carmen” (1983) é algo
manjada, quase apelativa no seu teor melodramático: nos bastidores de uma
adaptação flamenca da ópera “Carmen” de Bizet, desenvolve-se um enredo
envolvendo paixão e ciúme entre o diretor-coreógrafo e sua principal atriz, em
paralelo com a história de temática semelhante da ópera encenada. Na verdade,
tal roteiro serve apenas como um pretexto para o diretor Carlos Saura expor na
tela aquilo que realmente lhe interessa – as sanguíneas coreografias flamencas,
a fusão exuberante dos temas originais de Bizet com o virtuosismo de Paco de
Lucía, o rigoroso formalismo baseado no detalhismo cênico e em composições
imagéticas exuberantes. Em se tratando de Saura, é claro que se prefere a sua
fase setentista baseada na síntese entre crônica intimista-política e narrativa
de teor delirante, mas dentro de sua filmografia voltada para a música, “Carmen”
é um de seus trabalhos mais contundentes.
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