O cineasta Héctor Babenco é um nome muito importante na
história do cinema brasileiro. Além de ter dirigido obras fundamentais da
filmografia nacional, como “Lúcio Flávio – Passageiro da agonia” (1977) e “Pixote
– A lei do mais fraco” (1981), também foi o responsável por produções
internacionais memoráveis como “Ironweed” (1987) e “Brincando nos campos do
senhor” (1991). Dessa forma, é evidente que causa bastante frustração saber que
o seu filme-testamento seja um longa-metragem tão decepcionante quanto “Meu amigo
hindu” (2015). Na verdade, os trabalhos imediatamente anteriores de Babenco, “Carandiru”
(2003) e “O passado” (2007), já mostravam um considerável declínio em termos de
inspiração criativa, mas nada também que chegasse aos picos de ruindade do
trabalho derradeiro do diretor. Resumindo, trata-se de uma egotrip narcisista e
autoindulgente do diretor, concebida e elaborada sem o menor traço do cuidado estético-narrativo
e da consistente densidade psicológica que eram marcantes em seus melhores
filmes. É claro que dá para entender que Babenco quisesse transpor para as
telas o seu drama pessoal real de um doloroso tratamento para uma grave doença
e o consequente processo de desagregação de sua vida pessoal decorrente desse
fato, além de mostrar também o seu reerguimento como indivíduo diante de tais
circunstâncias difíceis e complexas. Um artista tem o direito de manifestar
suas obsessões da forma como quiser, e no caso do diretor dá para dizer que a
sua história tem um alcance universal. O verdadeiro equívoco de “Meu amigo
hindu” é que essa viagem intimista ganha um tratamento formal desleixado e
derivativo, acentuado ainda mais por escolhas de produção tremendamente esdruxulas
– para começar, por melhor ator que seja Willem Dafoe, por que escolher um ator
norte-americano para o papel de um protagonista brasileiro, numa trama que se
passa no Brasil, com demais personagens vividos por um elenco brasileiro que
fala em inglês? E com o complemento de que quando a história passa a se situar
nos Estados Unidos aparecem novamente atores brasileiros interpretando
norte-americanos com um inglês macarrônico? E a partir do momento que Bárbara
Paz entra em cena interpretando a si própria, a produção toma outro rumo. E
para pior, caindo no francamente ridículo, beirando a comédia involuntária.
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