quarta-feira, novembro 01, 2017

Meu amigo hindu, de Héctor Babendo *

O cineasta Héctor Babenco é um nome muito importante na história do cinema brasileiro. Além de ter dirigido obras fundamentais da filmografia nacional, como “Lúcio Flávio – Passageiro da agonia” (1977) e “Pixote – A lei do mais fraco” (1981), também foi o responsável por produções internacionais memoráveis como “Ironweed” (1987) e “Brincando nos campos do senhor” (1991). Dessa forma, é evidente que causa bastante frustração saber que o seu filme-testamento seja um longa-metragem tão decepcionante quanto “Meu amigo hindu” (2015). Na verdade, os trabalhos imediatamente anteriores de Babenco, “Carandiru” (2003) e “O passado” (2007), já mostravam um considerável declínio em termos de inspiração criativa, mas nada também que chegasse aos picos de ruindade do trabalho derradeiro do diretor. Resumindo, trata-se de uma egotrip narcisista e autoindulgente do diretor, concebida e elaborada sem o menor traço do cuidado estético-narrativo e da consistente densidade psicológica que eram marcantes em seus melhores filmes. É claro que dá para entender que Babenco quisesse transpor para as telas o seu drama pessoal real de um doloroso tratamento para uma grave doença e o consequente processo de desagregação de sua vida pessoal decorrente desse fato, além de mostrar também o seu reerguimento como indivíduo diante de tais circunstâncias difíceis e complexas. Um artista tem o direito de manifestar suas obsessões da forma como quiser, e no caso do diretor dá para dizer que a sua história tem um alcance universal. O verdadeiro equívoco de “Meu amigo hindu” é que essa viagem intimista ganha um tratamento formal desleixado e derivativo, acentuado ainda mais por escolhas de produção tremendamente esdruxulas – para começar, por melhor ator que seja Willem Dafoe, por que escolher um ator norte-americano para o papel de um protagonista brasileiro, numa trama que se passa no Brasil, com demais personagens vividos por um elenco brasileiro que fala em inglês? E com o complemento de que quando a história passa a se situar nos Estados Unidos aparecem novamente atores brasileiros interpretando norte-americanos com um inglês macarrônico? E a partir do momento que Bárbara Paz entra em cena interpretando a si própria, a produção toma outro rumo. E para pior, caindo no francamente ridículo, beirando a comédia involuntária.

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