Os filmes do diretor sul-coreano Hong Sang-soo apresentam
elementos narrativos que são recorrentes. Não se trata de acomodação artística,
mas sim de depuração de uma linguagem cinematográfica muito peculiar. Isso fica
evidente em “Na praia à noite sozinha” (2017). Nessa obra mais recente, estão
lá aqueles aspectos formais e temáticos que já constavam em seus filmes
anteriores – os planos narrativos que se alternam entre o real e o imaginário,
a encenação de fluidez insólita e cativante (evidentes, por exemplos, nas
sequências em que os personagens dialogam ao redor de uma mesa jantando ou
bebendo), o estilo de filmar e editar que sugere uma síntese particular entre a
aparente rusticidade e a sofisticação, o roteiro que alude ao universo do cinema
como um de seus principais cenários. Dentro desse conjunto estético-textual, a
narrativa faz com que espectador embarque em um contexto sensorial de estranho
encanto, em que as situações da trama se sucedem quase como se fosse um sonho,
em que algumas soluções marcadas pelo absurdo acabam ganhando uma notável
coerência existencial-artística. Assim, cenas parecem se repetir com sutis
variações, assim como as próprias noções de espaço e tempo se mostram elásticas,
mas o encanto de tais excentricidades é filtrado dentro de um formato de
crônica cotidiana. Ou seja, parece complicado, mas no final das contas é de uma
simplicidade desconcertante.
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