terça-feira, novembro 21, 2017

O outro lado da esperança, de Aki Kaurismäki ***

O que diferencia “O outro lado da esperança” (2017) de outras produções dirigidas pelo finlandês Aki Kaurismäki é o fato de ser a obra do cineasta com a trama mais escancaradamente sócio-política. Vários detalhes do roteiro apresentam forte ressonância com alguns dos principais temas que dominam a sociedade europeia – a crescente xenofobia cultural, a cada vez mais intensa migração de árabes para o continente em virtude de conflitos bélicos em seus países natais, a onda de desemprego que joga a economia na informalidade e na precariedade. Há um forte tom panfletário de crítica social na abordagem de Kaurismäki, mas sem que isso afete o estilo habitual do diretor. Pelo contrário – tais aspectos se complementam com bastante naturalidade e coerência. Dessa forma, estão lá na narrativa sempre presente a comicidade baseada numa encenação austera, a idiossincrasia ascética na caracterização de situações e personagens, a empatia que brota de econômicos truques narrativos, os belos números musicais que irrompem de maneira insólita, a atmosfera entre o realismo e o poético que por vezes desconcerta o espectador. A conjunção de tais aspectos artísticos acaba gerando alguns momentos memoráveis, principalmente na ambígua sequência final, em que o trágico e o tom esperançoso convivem em uma estranha harmonia.

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