segunda-feira, fevereiro 05, 2018

A forma da água, de Guillermo Del Toro ***1/2

O cinema do diretor mexicano Guillermo Del Toro passa por uma espécie de filtro de recriação de preceitos estéticos e temáticos do gênero fantástico em suas diversas vertentes (horror, ficção científica, fantasia), além de trazer em seu subtexto um sutil comentário sócio-político. “A forma da água” (2017) é um exemplar enfático dessa concepção artística do cineasta. Em termos de conceitos visuais e estrutura de narrativa, o filme remete a clássicos do horror cinematográfico, principalmente as produções de monstros da Universal nos anos 30 e 40. Há fortes doses de uma doce fantasia romântica, principalmente no que diz respeito à caracterização da protagonista Eliza (Sally Hawkins) e seu envolvimento amoroso com uma misteriosa criatura marinha (Doug Jones). Além disso, a ambientação em um sombrio centro de pesquisas e o aspecto histórico (início dos anos 60 a marcar o auge da guerra fria) faz lembrar aqueles filmes paranoicos de ficção científica dos anos 50. Tais referências e citações, entretanto, perpassam por uma linguagem cinematográfica e uma visão existencial bastante particulares por parte de Del Toro. Nesse sentido, é de se reparar que violência e erotismo se manifestam de maneira bem mais gráfica, fazendo com que “A forma da água” oscile de maneira notável entre o encantador e o perturbador. Além disso, a carga de simbologia do roteiro talvez seja a mais direta e contundente da filmografia de Del Toro – o que dizer de uma trama em que o vilão representa o arquétipo de idealização da sociedade ocidental patriarcal (homem, branco, herói de guerra e pai de família) e o grupo de “mocinhos” antagonistas é formado por aqueles que a sociedade considera como “minorias” (uma muda, uma negra, um gay, um comunista e até um ser inumano)? Mas o que dá a efetiva liga para a reciclagem de clichês narrativos do fantástico e para esse discurso político é a eficaz conjunção engendrada por Del Toro entre formalismo estilizado e uma encenação de dinâmica admirável, resultando em um criativo conjunto artístico que também sabe valorizar as ótimas interpretações icônicas de seu elenco.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

A Forma da Água é um deleite para os amantes do gênero fantástico, onde os seus personagens excluídos pela sociedade se sobressaem em meio a intolerância e prevalecendo assim o amor verdadeiro. Saiba mais no meu blog. https://cinemacemanosluz.blogspot.com.br/2018/02/cine-dica-em-cartaz-forma-da-agua.html