terça-feira, fevereiro 06, 2018

Corpo e alma, de Ildikó Enyedi **1/2

Há elementos nas sequências iniciais da produção húngara “Corpo e alma” (2017) que sugerem algo de promissor. A narrativa tem como pano de fundo as rotinas de trabalho e as desagregadas relações humanas em uma indústria de abate e comércio de gado. Assim, o frio e desumano processo de sacrifício de vacas, filmado com realismo perturbador, deveria servir como uma espécie de simbologia dos jogos de domínio social e mesmo sexual no ambiente da empresa. Há um certo rigor estético na forma sóbria com que o diretor Ildikó Enyedi desenvolve a trama do filme, além de uma aparente ousadia em inserir toques oníricos na narrativa. Falta para o filme, entretanto, uma pegada formal mais contundente e uma encenação de maior desenvoltura para que todos esses aspectos insólitos destacados ganhassem uma dimensão artística e humana de real impacto para o espectador. A obra dá a constante impressão de se utilizar de truques dramáticos e recursos narrativos um tanto mofados, que já seriam manjados algumas décadas atrás, parecendo mais um cruzamento incômodo de um pretenso cerebralismo na linha Krzystof Kieslowski com o exotismo visual pueril de Jean-Pierre Jeunet.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Corpo e Alma é um reflexo do mundo de hoje, onde existe uma sensação cada vez maior sobre a falta de toque humano pelo próximo e fazendo a gente se perguntar como então chegamos a esse ponto. https://cinemacemanosluz.blogspot.com.br/2018/01/cine-especial-clube-de-cinema-de-porto_29.html