Há elementos nas sequências iniciais da produção húngara “Corpo
e alma” (2017) que sugerem algo de promissor. A narrativa tem como pano de
fundo as rotinas de trabalho e as desagregadas relações humanas em uma
indústria de abate e comércio de gado. Assim, o frio e desumano processo de sacrifício
de vacas, filmado com realismo perturbador, deveria servir como uma espécie de
simbologia dos jogos de domínio social e mesmo sexual no ambiente da empresa.
Há um certo rigor estético na forma sóbria com que o diretor Ildikó Enyedi
desenvolve a trama do filme, além de uma aparente ousadia em inserir toques
oníricos na narrativa. Falta para o filme, entretanto, uma pegada formal mais
contundente e uma encenação de maior desenvoltura para que todos esses aspectos
insólitos destacados ganhassem uma dimensão artística e humana de real impacto
para o espectador. A obra dá a constante impressão de se utilizar de truques
dramáticos e recursos narrativos um tanto mofados, que já seriam manjados
algumas décadas atrás, parecendo mais um cruzamento incômodo de um pretenso
cerebralismo na linha Krzystof Kieslowski com o exotismo visual pueril de
Jean-Pierre Jeunet.
Um comentário:
Corpo e Alma é um reflexo do mundo de hoje, onde existe uma sensação cada vez maior sobre a falta de toque humano pelo próximo e fazendo a gente se perguntar como então chegamos a esse ponto. https://cinemacemanosluz.blogspot.com.br/2018/01/cine-especial-clube-de-cinema-de-porto_29.html
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