Nas várias sequências da produção francesa “120 batimentos
por minuto” (2017) que envolvem as reuniões de discussões do grupo ativista Act
Up, o tema mais premente é a urgência de soluções, atitudes, combates e
posicionamentos relativos à luta contra a proliferação desenfreada da AIDS no
início dos anos 90. Esse sentimento de urgência passa também para a própria
concepção artística e narrativa do filme dirigido por Robin Campillo. Nesse
sentido, encenação e montagem se entrelaçam de maneira contundente e poética –
é de se reparar na forma com que o teor fortemente realista da obra,
principalmente em termos de roteiro e atmosfera, por vezes cede espaço para
delicados toques oníricos e delirantes. As tensas e naturalistas cenas que se
desenvolvem nas reuniões do grupo e nas suas ações performáticas de protestos,
que sintetizam de maneira equilibrada uma verborragia fascinante com uma
eletrizante dinâmica na equação fotografia-montagem, alternam-se com hedonistas
e estilizadas tomadas de festas e até insólitas sequências de animação (como a
o perturbador “balé” do vírus no organismo afetado). Nessa alternância de
abordagens e atmosferas, é fascinante também como os tempos presente e passado
se reúnem na mesma dimensão narrativa, vide a passagem em que Sean (Nahuel
Pérez Biscayart) se recorda de quando foi contaminado: na mesma cama em que recorda
esse fato junto com o seu atual namorado Nathan (Arnaud Valois) aparece o
antigo amante que lhe transmitiu a doença, em um recurso em que a passagem de
tempo se efetiva sem corte de edição. Por mais que a temática transpareça
revolta e amargura diante da inoperância e hipocrisia moral por parte de
agências do Estado e da indústria farmacêutica, Campillo não perde o rigor e a
serenidade no controle estético e narrativo da sua obra, sabendo ainda realçar
outros fundamentais detalhes artísticos como as viscerais composições
dramáticas de seu elenco e os pulsantes temas eletrônicos da trilha sonora. E
se boa parte das soluções formais de “120 batimentos por minuto” remete a “Entre
os muros da escola” (2008), tal lembrança não se configura como mera
coincidência quando se fica sabendo que Campillo foi montador e roteirista da
obra-prima dirigida por Laurent Cantet.
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