segunda-feira, fevereiro 19, 2018

Antes do fim, de Cristiano Burlan ***1/2


Se em “Fome” (2015), o anterior longa-metragem da parceria entre o diretor Cristiano Burlan e o crítico/roteirista/ator Jean- Claude Bernardet, evidenciava uma intrigante síntese entre ficção e elementos “reais”, em “Antes do fim” (2017) a particular concepção artística engendrada pela dupla se torna ainda mais ampla e complexa. Há algo que se pode definir como um fio de história, em que um homem idoso (Bernardet) procura convencer sua parceira (Helena Ignez) a praticar um suicídio duplo. A partir dessa trama, Burlan articula uma narrativa que joga na tela uma série de obsessões estéticas e existenciais tanto suas quanto de Bernardet e Ignez. E o que no início aparenta um certo tom aleatório e instintivo na forma com que as cenas se sucedem e encaixam, aos poucos vai revelando um insólito rigor conceitual e formal. Técnicas documentais são incorporadas no ficcional, formando uma narrativa híbrida de desconcertante coerência. Na narrativa, há trechos fílmicos de uma Helena no auge da juventude e beleza em plena ação dentro do cinema underground, passagens de marcação teatral, monólogos de Bernardet filosofando ou interpretando (ou as duas coisas ao mesmo tempo) com sedutora naturalidade, conversas entre o casual e o estilizado de forte teor humanista e libertário entre o casal protagonista, algumas sequências de balé de delicada desenvoltura, carinhosos exercícios de estilos cinematográficos remetendo ao cinema mudo, além de um notável senso plástico da direção de fotografia. No conjunto geral, uma memorável viagem sensorial.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Não estranhem se quando assistirem o filme se lembrarem do Sétimo Selo