Se em “Fome” (2015), o anterior longa-metragem da parceria
entre o diretor Cristiano Burlan e o crítico/roteirista/ator Jean- Claude
Bernardet, evidenciava uma intrigante síntese entre ficção e elementos “reais”,
em “Antes do fim” (2017) a particular concepção artística engendrada pela dupla
se torna ainda mais ampla e complexa. Há algo que se pode definir como um fio
de história, em que um homem idoso (Bernardet) procura convencer sua parceira
(Helena Ignez) a praticar um suicídio duplo. A partir dessa trama, Burlan
articula uma narrativa que joga na tela uma série de obsessões estéticas e
existenciais tanto suas quanto de Bernardet e Ignez. E o que no início aparenta
um certo tom aleatório e instintivo na forma com que as cenas se sucedem e
encaixam, aos poucos vai revelando um insólito rigor conceitual e formal.
Técnicas documentais são incorporadas no ficcional, formando uma narrativa
híbrida de desconcertante coerência. Na narrativa, há trechos fílmicos de uma
Helena no auge da juventude e beleza em plena ação dentro do cinema
underground, passagens de marcação teatral, monólogos de Bernardet filosofando
ou interpretando (ou as duas coisas ao mesmo tempo) com sedutora naturalidade,
conversas entre o casual e o estilizado de forte teor humanista e libertário entre
o casal protagonista, algumas sequências de balé de delicada desenvoltura, carinhosos
exercícios de estilos cinematográficos remetendo ao cinema mudo, além de um
notável senso plástico da direção de fotografia. No conjunto geral, uma
memorável viagem sensorial.
Um comentário:
Não estranhem se quando assistirem o filme se lembrarem do Sétimo Selo
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