O diretor japonês Kiyoshi Kurosawa é mais conhecido por
atuar dentro do gênero fantástico. Dessa forma, pode causar um certo
estranhamente ao vê-lo enveredar pelo melodrama familiar em “Sonata de Tóquio”
(2008). Com o desenrolar da narrativa do filme, entretanto, pode-se perceber
que a sua habitual abordagem artística está ali presente, ainda que em outro
contexto. Em uma trama que tem como premissa principal a desagregação
psicológica-moral de uma família de classe média a partir da demissão e longo período
de desemprego do pai, o cineasta constrói uma obra de sombria atmosfera e de
encenação repleta de sóbrias nuances dramáticas. De certa forma, é como se
Kurosawa reconstruísse o universo estético e temático das principais produções
dirigidas por Yasujiro Ozu, sempre centralizadas em famílias disfuncionais, sob
um prisma mais sinistro e pessimista, em que atitudes e gestos dos personagens
e a caracterização de situações do roteiro evocassem um caráter insólito e
tenebroso. O cineasta deixa claro que a crueldade da realidade sócio-econômica
da sociedade capitalista e seu consequente vazio existencial é mais apavorante
do que qualquer monstro repulsivo ou outro elemento de terror sobrenatural.
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