quinta-feira, fevereiro 08, 2018

Sonata de Tóquio, de Kiyoshi Kurosawa ***1/2


O diretor japonês Kiyoshi Kurosawa é mais conhecido por atuar dentro do gênero fantástico. Dessa forma, pode causar um certo estranhamente ao vê-lo enveredar pelo melodrama familiar em “Sonata de Tóquio” (2008). Com o desenrolar da narrativa do filme, entretanto, pode-se perceber que a sua habitual abordagem artística está ali presente, ainda que em outro contexto. Em uma trama que tem como premissa principal a desagregação psicológica-moral de uma família de classe média a partir da demissão e longo período de desemprego do pai, o cineasta constrói uma obra de sombria atmosfera e de encenação repleta de sóbrias nuances dramáticas. De certa forma, é como se Kurosawa reconstruísse o universo estético e temático das principais produções dirigidas por Yasujiro Ozu, sempre centralizadas em famílias disfuncionais, sob um prisma mais sinistro e pessimista, em que atitudes e gestos dos personagens e a caracterização de situações do roteiro evocassem um caráter insólito e tenebroso. O cineasta deixa claro que a crueldade da realidade sócio-econômica da sociedade capitalista e seu consequente vazio existencial é mais apavorante do que qualquer monstro repulsivo ou outro elemento de terror sobrenatural.

Nenhum comentário: