Em “Leviatã” (2014), o diretor russo Andrey Zvyagintsev
mostrava a desintegração existencial de seu país através de uma história
envolvendo o massacre econômico e moral de um indivíduo promovido por poderosos
grupos financeiros em uma aldeia. “Sem amor” (2017), obra mais recente do
cineasta, dá prosseguimento nessa dissecação da Mãe Rússia diante da realidade
de capitalismo selvagem após o fim da era do socialismo soviético, só que agora
tendo como história principal o processo de desagregação de uma família que
culmina no desaparecimento do filho adolescente. Na teoria, essa ideia de
subtexto em que intimismo e política se confundem é interessante e até bastante
pertinente, isso sem contar que a rigorosa abordagem estética habitual de
Zvyagintsev impediria que o filme caísse no mero sentimentalismo. Na prática,
contudo, as coisas desandam de maneira fragorosa em “Sem amor”. Em sua crítica
aos hábitos consumistas e desumanizados da sociedade russa contemporânea, a
produção investe em truques narrativos e textuais que cansam pela repetição e
obviedade, além de evidenciar um roteiro que peca por uma lógica moralista
simplória. É de se reparar, por exemplo, que logo após duas sequências de sexo
extraconjugal envolvendo o casal de protagonista, em encenações que beira a
estilização, é que ocorre o fato principal da trama, ou seja, o desaparecimento
do garoto Alyosha (Matvey Novikov). Não que a elaboração de uma narrativa em
formato de conto moral seja um pecado imperdoável – diretores extraordinários
como Eric Rohmer e Robert Bresson criaram obras-primas enveredando por esse
tipo de narrativa. O problema é que as soluções formais e de roteiros
encontradas por Zvyagintsev redundam em um resultado final marcado pelo enfado
e pelo banal.
Um comentário:
Estou louco para ver o filme desde que eu li a matéria sobre ele na revista Teorema
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