segunda-feira, fevereiro 26, 2018

Trama fantasma, de Paul Thomas Anderson ****


A música composta por Jonny Greenwood para a trilha sonora de “Trama fantasma” (2017) é o perfeito reflexo do que é a própria concepção estética-existencial do filme dirigido por Paul Thomas Anderson – nos primeiros momentos da narrativa, os temas incidentais são solenes, requintados, de doces melodias que evocam algo de tradicional. Aos poucos e de maneira sutil, a música vai ganhando uma conotação mais dissonante, por vezes estridente, quase maníaca. Pois o filme de Anderson é justamente isso. Se em seus momentos iniciais a obra sugere algo de um convencional drama de época, de requintado acabamento formal, aos poucos essa impressão vai se dissipando e a narrativa se converte em um conto gótico repleto de insólito humor negro e uma perturbadora carga de simbologia psicanalítica dotada de perversidade e toques incestuosos. A precisa encenação, a edição que alterna de maneira desconcertante tanto planos temporais quanto de realidade e a direção de fotografia de pictórica textura de imagens e enquadramentos repletos de nuances imagéticas não se configuram apenas em meros detalhes de virtuosismo técnico, mas também dão um vigoroso sentido de atmosfera dramática e ambientação algo delirante para o complexo roteiro que alterna irônicos exageros românticos, metáforas edipianas e uma delicada construção psicológica de personagens. Nesse último aspecto, dá para dizer que Daniel Day-Lewis capta o espírito da obra com perfeição no papel do protagonista Reynolds Woodcock, oscilando com naturalidade perturbadora um lado sedutor e sofisticado e outro marcado por um comportamento patético beirando o francamente ridículo. E a composição dramática de Vicky Krieps é um notável achado, em uma caracterização que vai do inocente e etéreo até o deliciosamente maquiavélico.

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