A música composta por Jonny Greenwood para a trilha sonora
de “Trama fantasma” (2017) é o perfeito reflexo do que é a própria concepção
estética-existencial do filme dirigido por Paul Thomas Anderson – nos primeiros
momentos da narrativa, os temas incidentais são solenes, requintados, de doces
melodias que evocam algo de tradicional. Aos poucos e de maneira sutil, a
música vai ganhando uma conotação mais dissonante, por vezes estridente, quase
maníaca. Pois o filme de Anderson é justamente isso. Se em seus momentos
iniciais a obra sugere algo de um convencional drama de época, de requintado acabamento
formal, aos poucos essa impressão vai se dissipando e a narrativa se converte
em um conto gótico repleto de insólito humor negro e uma perturbadora carga de simbologia
psicanalítica dotada de perversidade e toques incestuosos. A precisa encenação,
a edição que alterna de maneira desconcertante tanto planos temporais quanto de
realidade e a direção de fotografia de pictórica textura de imagens e enquadramentos
repletos de nuances imagéticas não se configuram apenas em meros detalhes de
virtuosismo técnico, mas também dão um vigoroso sentido de atmosfera dramática
e ambientação algo delirante para o complexo roteiro que alterna irônicos exageros
românticos, metáforas edipianas e uma delicada construção psicológica de
personagens. Nesse último aspecto, dá para dizer que Daniel Day-Lewis capta o
espírito da obra com perfeição no papel do protagonista Reynolds Woodcock,
oscilando com naturalidade perturbadora um lado sedutor e sofisticado e outro
marcado por um comportamento patético beirando o francamente ridículo. E a
composição dramática de Vicky Krieps é um notável achado, em uma caracterização
que vai do inocente e etéreo até o deliciosamente maquiavélico.
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