terça-feira, setembro 25, 2018

Barbara, de Mathieu Amalric ****


Há uma forte conexão artística-temática entre “Turnê” (2010) e “Barbara” (2017), ambas dirigidos pelo Mathieu Amalric – os dois filmes versam sobre os bastidores de produções culturais, mostrando como a tensão dramática entre aqueles envolvidos em tais atividades também serve como força criativa no resultado final de tais obras. Se em “Turnê” essa abordagem tinha como cenário as viagens de uma companhia de shows de burlesco pelo interior da França, tendo ainda uma narrativa de traço fortemente naturalista, em “Barbara” temática e encenação se tornam mais intrincados – a trama conta a história da produção de um longa de recriação dramática da trajetória da cantora e compositora Barbara Brodi, com Amalric propondo um entrecruzamento constante entre encenação e recortes documentais a um ponto em que a linha entre o real e o imaginário fica bastante tênue. Esse viés estético não é gratuito, pois o foco principal do roteiro está justamente no processo de composição dramática da atriz Brigitte (Jeanne Balibar) para chegar no âmago de Barbara e como nesse processo intérprete e personagem acabam por vezes se tornando uma entidade única. Amalric também interpreta o diretor dessa fictícia produção biográfica e seu papel evoca os dilemas e contradições principais da trama: o quanto daquilo que é recriado em cena apresenta a verdade e o quanto é idealizado/imaginado? A resposta para tais indagações nunca é direta e taxativa. Na verdade, não há nem uma resposta propriamente dita. Nesse fascinante jogo de espelhos engendrado por Amalric, o que efetivamente prevalece é a verdade da legítima e apaixonada expressão artística dos indivíduos.

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