quarta-feira, setembro 26, 2018

Uma questão pessoal, de Paolo e Vittorio Taviani ***


Nos anos 70 e na primeira metade da década de 80, os irmãos-diretores Paolo e Vittorio Taviani realizaram preciosos filmes que traziam uma peculiar marca autoral que sintetizava de maneira fluente tanto princípios de abordagem naturalista quanto notáveis nuances de realismo mágico. Posteriormente, sua filmografia, ainda que de considerável competência formal, foi se tornando mais convencional e academicista. Somente com o brilhante “César deve morrer” (2012) eles retomaram aquela veia criativa acima da média. Canto do cisne dessa parceria (Vittorio morreu nesse ano), “Uma questão pessoal” (2017) está bem longe do grande pico artístico dos Tavianni, mas ainda assim é uma obra relevante e também consegue revelar em algumas passagens a típica assinatura artística deles. A fraqueza da produção está no excessivo apego a uma estética algo asséptica e mofada em algumas passagens, principalmente quando a trama fica centrada nos flashbacks do triângulo amoroso no qual está envolvido o protagonista Milton (Luca Marinelli). Na metade final do filme, entretanto, quando a narrativa se concentra nas sequências de batalhas entre fascistas e guerrilheiros na 2ª Guerra Mundial em uma área rural da Itália, prevalece um instigante caráter mais sardônico e amargo a retratar a condição do absurdo existencial em uma guerra – por vezes, a narrativa se mostra localizada em uma estranha área entre o anedótico e o delirante, com destaque para a memorável cena de um demente prisioneiro fascista que fica simulando para uma pequena plateia de camponeses um solo de bateria em estilo jazz-improviso. A bela sequência final de “Uma questão pessoal”, de forte teor poético e libertário, é outro momento a evidenciar a particular concepção estética-humanista dos Taviani.

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