Nos anos 70 e na primeira metade da década de 80, os
irmãos-diretores Paolo e Vittorio Taviani realizaram preciosos filmes que
traziam uma peculiar marca autoral que sintetizava de maneira fluente tanto
princípios de abordagem naturalista quanto notáveis nuances de realismo mágico.
Posteriormente, sua filmografia, ainda que de considerável competência formal,
foi se tornando mais convencional e academicista. Somente com o brilhante “César
deve morrer” (2012) eles retomaram aquela veia criativa acima da média. Canto
do cisne dessa parceria (Vittorio morreu nesse ano), “Uma questão pessoal”
(2017) está bem longe do grande pico artístico dos Tavianni, mas ainda assim é
uma obra relevante e também consegue revelar em algumas passagens a típica assinatura
artística deles. A fraqueza da produção está no excessivo apego a uma estética
algo asséptica e mofada em algumas passagens, principalmente quando a trama
fica centrada nos flashbacks do triângulo amoroso no qual está envolvido o
protagonista Milton (Luca Marinelli). Na metade final do filme, entretanto,
quando a narrativa se concentra nas sequências de batalhas entre fascistas e
guerrilheiros na 2ª Guerra Mundial em uma área rural da Itália, prevalece um instigante
caráter mais sardônico e amargo a retratar a condição do absurdo existencial em
uma guerra – por vezes, a narrativa se mostra localizada em uma estranha área
entre o anedótico e o delirante, com destaque para a memorável cena de um
demente prisioneiro fascista que fica simulando para uma pequena plateia de
camponeses um solo de bateria em estilo jazz-improviso. A bela sequência final
de “Uma questão pessoal”, de forte teor poético e libertário, é outro momento a
evidenciar a particular concepção estética-humanista dos Taviani.
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