terça-feira, setembro 18, 2018

O banquete, de Daniela Thomas ***


Há uma forte conexão artística-existencial entre “O banquete” (2018) e o filme imediatamente anterior de Daniela Thomas, “Vazante” (2017). Se neste a cineasta traçava os primórdios da formatação da elite brasileira, em que seus valores e costumes estavam ligados de maneira intrínseca ao regime escravista da sociedade brasileira colonial, na obra mais recente mostra essa mesma elite no princípio da década de 90 perdida entre um hedonismo dissimulado de sofisticação e inconsequentes e arrogantes demonstrações de seu prestígio sócio-econômico. E entre os dois filmes há pelo menos mais uma coisa em comum: entregam menos do que prometem. Os primeiros dois terços da narrativa de “O banquete” são sedutores, com Thomas conseguindo apresentar uma bela síntese entre preciosismo imagético, interação magnética entre sinuosos movimentos de câmera e trilha sonora jazzy que dão uma certa sensação “chapada” ao espectador, espirituosos diálogos e algumas ótimas atuações de seu elenco (Caco Ciocler, por exemplo, tem a melhor atuação disparada de sua carreira). É interessante também que a cineasta consegue oferecer uma interessante perspectiva feminina na exposição do machismo implícito nas relações de poder entre os personagens – Mauro (Rodrigo Bolzan) e Plínio (Ciocler), detrás da respeitável aparência de jornalista e advogado bem-sucedidos, aos poucos se revelam como indivíduos imaturos emocionalmente e com enorme vacuidade moral. O ato final do filme, entretanto, se aprofunda em soluções formais e temáticas óbvias em excesso, o que acaba tirando muito do impacto dramático e mesmo do cruel sarcasmo que antes predominavam no filme. O que era para ser catártico se converte em melodrama barato, desperdiçando, inclusive, contundentes aspectos da trama e mesmo personagens que insinuavam algumas relevantes nuances psicológicas.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

O Banquete usa um pequeno cenário para se discutir sobre os anseios de um país que deseja cada vez mais se desvencilhar do lado hipócrita de uma parte da sociedade que finge em ser cega, surda e muda. Saiba mais no meu blog. https://cinemacemanosluz.blogspot.com/2018/09/cine-dica-em-cartaz-o-banquete.html