A impressão que se pode ter do cineasta norte-americano pela
amostragem de sua filmografia até agora é a de uma espécie de Woody Allen
reciclado e mais moderninho a retratar o fechado mundo de uma certa elite cultural
de “jovens adultos” envolvidos em um restrito universo artístico. A semelhança
é tanta que em “Rainha do mundo” (2015) vem a lembrança daqueles filmes em que
Allen procurava dar vazão à sua obsessão pelas carregadas atmosferas
psicológicas de alguns clássicos de Ingmar Bergman. Ou seja, não chega a ser
algo propriamente muito original, mas é de se reconhecer que por vezes Perry
consegue extrair momentos bem inquietantes em seu filme. No agressivo jogo de
agressões psicológicas entre as amigas neuróticas Catherine (Elisabeth Moss) e
Ginny (Katherine Waterston), disfarçado em hipócritas conversas “civilizadas”,
fica estabelecida uma ambígua atmosfera de sutilezas comportamentais e pura
desintegração mental. Se a encenação e ambientação por vezes sugerem uma
abordagem quase resvalando no asséptico, em momentos pontuais o filme deixa
extravasar uma perturbadora fúria cênica, principalmente quando retrata a
avassaladora dissolução mental de Catherine – nesse aspecto, claro destaque
para a interpretação de Moss, que remete ao desempenho antológico de Bette
Davis em “O que terá acontecido à Baby Jane?” (1962).
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