terça-feira, setembro 04, 2018

Rainha do mundo, de Alex Ross Perry ***


A impressão que se pode ter do cineasta norte-americano pela amostragem de sua filmografia até agora é a de uma espécie de Woody Allen reciclado e mais moderninho a retratar o fechado mundo de uma certa elite cultural de “jovens adultos” envolvidos em um restrito universo artístico. A semelhança é tanta que em “Rainha do mundo” (2015) vem a lembrança daqueles filmes em que Allen procurava dar vazão à sua obsessão pelas carregadas atmosferas psicológicas de alguns clássicos de Ingmar Bergman. Ou seja, não chega a ser algo propriamente muito original, mas é de se reconhecer que por vezes Perry consegue extrair momentos bem inquietantes em seu filme. No agressivo jogo de agressões psicológicas entre as amigas neuróticas Catherine (Elisabeth Moss) e Ginny (Katherine Waterston), disfarçado em hipócritas conversas “civilizadas”, fica estabelecida uma ambígua atmosfera de sutilezas comportamentais e pura desintegração mental. Se a encenação e ambientação por vezes sugerem uma abordagem quase resvalando no asséptico, em momentos pontuais o filme deixa extravasar uma perturbadora fúria cênica, principalmente quando retrata a avassaladora dissolução mental de Catherine – nesse aspecto, claro destaque para a interpretação de Moss, que remete ao desempenho antológico de Bette Davis em “O que terá acontecido à Baby Jane?” (1962).

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