segunda-feira, setembro 24, 2018

Buscando, de Aneesh Chatanty *


Em tempos em que um grande número de pessoas passa boa parte do seu tempo ligado diretamente ao mundo virtual, é natural que a própria maneira tradicional de se ver um filme acabaria sofrendo essa influência. “Buscando...” (2018) não é a primeira obra cinematográfica a ter praticamente toda a sua ação configurada no espaço de uma tela de computador em diversas modalidades de exposição virtual (redes sociais, sites de notícias, aplicativos de comunicação e afins), mas talvez seja aquela nessa linhagem que tenha tido maior exposição midiática até agora. Nesse caso, dá para dizer que estamos diante de um daqueles casos de ruptura na linguagem cinematográfica? O resultado final da produção dirigida por Aneesh Chatanty prova que não é para tanto. Por mais que os diversos truques estéticos remetendo a uma incorporação de recentes recursos tecnológicos de software a uma formatação narrativa de cinema estejam presentes, eles pouco contribuem para que o filme fuja dos mais manjados e irritantes lugares comuns no gênero suspense em termos formais e temáticos. A edição de “Buscando...” é até competente na preservação de um certo ritmo narrativo, mas a impressão geral é de um trabalho raso e genérico que não apresenta qualquer momento efetivo de alguma transcendência sensorial em termos de experiência audiovisual. Se em um primeiro momento há até um impacto de novidade na forma de sua encenação, com o tempo tais trucagens vão se revelando apenas enfadonhas e cansativas. No mais, o roteiro acentua essa impressão de “velha novidade”: na saga de um pai especialista em tecnologia da informação que está na busca de sua filha desaparecida, há em seu subtexto aquela ideologia tão requentada em Hollywood nos últimos tempos de um justiceiro sagaz e obstinado que se revela muito mais eficiente no combate às injustiças que a máquina corrupta e ineficiente do poder estatal (Bolsonaro, MBL e neoliberais em geral adoram esse ideário...).

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