Em tempos em que um grande número de pessoas passa boa parte
do seu tempo ligado diretamente ao mundo virtual, é natural que a própria
maneira tradicional de se ver um filme acabaria sofrendo essa influência. “Buscando...”
(2018) não é a primeira obra cinematográfica a ter praticamente toda a sua ação
configurada no espaço de uma tela de computador em diversas modalidades de
exposição virtual (redes sociais, sites de notícias, aplicativos de comunicação
e afins), mas talvez seja aquela nessa linhagem que tenha tido maior exposição
midiática até agora. Nesse caso, dá para dizer que estamos diante de um
daqueles casos de ruptura na linguagem cinematográfica? O resultado final da
produção dirigida por Aneesh Chatanty prova que não é para tanto. Por mais que
os diversos truques estéticos remetendo a uma incorporação de recentes recursos
tecnológicos de software a uma formatação narrativa de cinema estejam
presentes, eles pouco contribuem para que o filme fuja dos mais manjados e
irritantes lugares comuns no gênero suspense em termos formais e temáticos. A
edição de “Buscando...” é até competente na preservação de um certo ritmo
narrativo, mas a impressão geral é de um trabalho raso e genérico que não
apresenta qualquer momento efetivo de alguma transcendência sensorial em termos
de experiência audiovisual. Se em um primeiro momento há até um impacto de
novidade na forma de sua encenação, com o tempo tais trucagens vão se revelando
apenas enfadonhas e cansativas. No mais, o roteiro acentua essa impressão de “velha
novidade”: na saga de um pai especialista em tecnologia da informação que está
na busca de sua filha desaparecida, há em seu subtexto aquela ideologia tão
requentada em Hollywood nos últimos tempos de um justiceiro sagaz e obstinado
que se revela muito mais eficiente no combate às injustiças que a máquina
corrupta e ineficiente do poder estatal (Bolsonaro, MBL e neoliberais em geral
adoram esse ideário...).
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