A história de Vinicius Gageiro Marques, o Yonlu, é bastante
emblemática dos nossos tempos. Adolescente com peculiar talento para música,
ilustração e poesia, foi bastante prolífico no ambiente de seu quarto ao
produzir a sua arte. Após se matar aos 16 anos, com a ajuda de uma espécie de
foro virtual de auxílio para o cometimento de suicídios, acabou tendo suas
canções, poemas e ilustrações divulgadas de maneira póstuma (até David Byrne
lançou um disco com as gravações de Yonlu). Dessa forma, era natural que uma
longa-metragem biográfico de sua trajetória despertasse curiosidade e
expectativas. O resultado final de “Yonlu” (2017), recriação dramática dos últimos
meses de vida do garoto, entretanto, deixa bastante a desejar tanto no sentido
de valorizar a figura humana e artística de seu protagonista como obra
cinematográfica em si. Existe a pretensão de que a narrativa esteja em sintonia
com a própria natureza instável e complexa do protagonista, fazendo com que o
roteiro e a atmosfera da obra por vezes se vinculem a uma abordagem delirante e
algo fragmentada. O problema principal desse direcionamento estético é que a
soluções criativas do diretor Hique Montanari acabam se revelando equivocadas
em termos de concepção e execução. O tom de onirismo de algumas sequências
resvala em truques audiovisuais apelativos e simplórios (as representações
cênicas do fórum de incentivadores de suicídio, por exemplo, parecem videoclipe
oitentista bagaceiro). Mas pior mesmo são as cenas de entrevista de uma
repórter (Mirna Zpritzer) com o psiquiatra (Nelson Diniz) que consultava com
Yonlu – diálogos e dinâmica cênica dão a impressão de vídeo institucional.
Thalles Cabral no papel do protagonista também é outra escolha problemática da
produção, pois sua interpretação está mais para uma síntese incômoda de
fotogenia asséptica e anacrônica afetação James Dean. Por isso que um dos
melhores momentos do filme, ao lado dos bons números de animação da obra,
ocorre no final quando aparecem cenas documentais do próprio Yonlu atuando em
números caseiros, dando a impressão de insólito encantamento pela bizarrice,
espontaneidade e autoironia de sua postura. Aliás, um pouco de senso de humor,
ainda que mórbido, típico da persona de Yonlu, é o que faz falta nesse
cruzamento de “Malhação”, psicodelia barata e discurso conservador que
representa o filme de Montanari.
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