segunda-feira, setembro 10, 2018

Yonlu, de Hique Montanari *


A história de Vinicius Gageiro Marques, o Yonlu, é bastante emblemática dos nossos tempos. Adolescente com peculiar talento para música, ilustração e poesia, foi bastante prolífico no ambiente de seu quarto ao produzir a sua arte. Após se matar aos 16 anos, com a ajuda de uma espécie de foro virtual de auxílio para o cometimento de suicídios, acabou tendo suas canções, poemas e ilustrações divulgadas de maneira póstuma (até David Byrne lançou um disco com as gravações de Yonlu). Dessa forma, era natural que uma longa-metragem biográfico de sua trajetória despertasse curiosidade e expectativas. O resultado final de “Yonlu” (2017), recriação dramática dos últimos meses de vida do garoto, entretanto, deixa bastante a desejar tanto no sentido de valorizar a figura humana e artística de seu protagonista como obra cinematográfica em si. Existe a pretensão de que a narrativa esteja em sintonia com a própria natureza instável e complexa do protagonista, fazendo com que o roteiro e a atmosfera da obra por vezes se vinculem a uma abordagem delirante e algo fragmentada. O problema principal desse direcionamento estético é que a soluções criativas do diretor Hique Montanari acabam se revelando equivocadas em termos de concepção e execução. O tom de onirismo de algumas sequências resvala em truques audiovisuais apelativos e simplórios (as representações cênicas do fórum de incentivadores de suicídio, por exemplo, parecem videoclipe oitentista bagaceiro). Mas pior mesmo são as cenas de entrevista de uma repórter (Mirna Zpritzer) com o psiquiatra (Nelson Diniz) que consultava com Yonlu – diálogos e dinâmica cênica dão a impressão de vídeo institucional. Thalles Cabral no papel do protagonista também é outra escolha problemática da produção, pois sua interpretação está mais para uma síntese incômoda de fotogenia asséptica e anacrônica afetação James Dean. Por isso que um dos melhores momentos do filme, ao lado dos bons números de animação da obra, ocorre no final quando aparecem cenas documentais do próprio Yonlu atuando em números caseiros, dando a impressão de insólito encantamento pela bizarrice, espontaneidade e autoironia de sua postura. Aliás, um pouco de senso de humor, ainda que mórbido, típico da persona de Yonlu, é o que faz falta nesse cruzamento de “Malhação”, psicodelia barata e discurso conservador que representa o filme de Montanari.

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