As coisas nunca são fáceis
com Sergio Bianchi. Mais importante do que conceber uma obra de caráter formal agradável,
o que interessa efetivamente para ele é oferecer para o espectador uma experiência
de desconforto sensorial, como se ele tentasse traduzir em um filme a sensação
de incômodo e inquietação de viver numa sociedade caótica e confusa como a
ocidental dos dias de hoje. “A causa secreta” (1994) é uma interessante afirmação
das intenções de Bianchi. Baseada num original literário de Machado de Assis, a
obra até arrisca nas aparências uma abordagem realista. Com o desenvolvimento
da narrativa, o que era para ser naturalista acaba se misturando a uma estranha
e abrasiva combinação de elementos de cinema, teatro e literatura. Bianchi se
vale do exagero e da ironia ácida para expor sua visão amarga dos conflitos de
classe. Apesar de virulência do seu ataque, o cineasta consegue manter a
sutileza ao estabelecer um perturbador jogo de simbologias e metáforas nas relações
de domínio e opressão numa companhia de teatro no processo criativo de encenação
de uma peça, contrapondo violentamente discurso e prática na forma com que os
personagens se relacionam. Nem sempre as intenções estéticas e temáticas de
Bianchi se configuram de forma plena, pecando por vezes por diálogos e situações
muito literais no sentido que querem expressar. Apesar disso, predomina a
impressão de que o tom geral de choque e atrito de “A causa secreta” consegue
obter aquele impacto memorável para o nosso imaginário.
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