Algumas indicações a prêmio ou truques de marketing podem
fazer parecer que “Um santo vizinho” (2014) tenha um grau de relevância artística
maior do que ele realmente tem. Em um primeiro momento, mesmo a sua formatação
pode sugerir isso: uma ambientação de tons naturalistas (o protagonista vivido
Bill Murray, por exemplo, é mostrado com todas as rugas a que tem direito e
mais alguns machucados repletos de sangue coagulado), o roteiro tem aquelas
pretensão de retratar as coisas do dia-a-dia, até mesmo a trilha sonora é
repleta de boas canções na linha “rock indie”. Todos esses elementos,
entretanto, só servem para iludir o espectador incauto. Na realidade, a produção
dirigida por Theodore Melfi é bem genérica nos seus truques baratos de misturar
comédia e melodrama edificante. Por mais escroto e irônico que Vincent (Murray)
possa ser, sempre haverá um detalhe no roteiro que o isentará de suas más ações.
A iluminação natural estourada e a caracterização sem glamour da maioria do
elenco não conseguem esconder que se está vendo uma narrativa formulaica e sem
convicção. O que garante algum pouco de vida e credibilidade para “Um santo
vizinho” é o carisma de Bill Murray – o cara, mesmo envelhecido, é aquele tipo
raro de ator que tem uma imposição cênica magnética e que consegue transcender
mesmo uma encenação tão medíocre quanto à do filme em questão.
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