quarta-feira, março 18, 2015

Sabotage: O maestro do Canão, de Ivan 13P ***


Há um equívoco recorrente em boa parte dos documentários brasileiros que apareceram nos últimos anos: o desejo de condensar uma gama imensa de informações em uma hora e meia ou duas horas de duração das produções faz com que tais produções caiam em uma certa redundância. Isso porque os diretores acabam acumulando vários depoimentos de pessoas que basicamente dizem a mesma coisa (“fulano era um cara muito legal”, “sicrano tinha muito talento”, etc). “Sabotage: O maestro do Canão” (2014) até cai nesse vício por vezes – alguns comentários de seus depoentes podiam ter ficado na sala de edição, pois pouco acrescentam. Tal reparo, entretanto, até se torna compreensível quando se percebe que isso é reflexo do entusiasmo do diretor Ivan 13P pela figura do seu protagonista. Além de admirar a arte de Sabotage, Ivan tem boas sacadas narrativas que conseguem dar uma idéia aproximada da dimensão artística e humana do rapper assassinado em 2013. Em um primeiro momento, até se pode pensar que a trajetória de Sabotage foi meteórica. Afinal, entre shows e gravações, esteve efetivamente ativo entre 2000 e 2013. Sua produção foi tão intensa, contudo, que foi capaz de gerar um número considerável de frutos artísticos. Isso fica evidente na quantidade impressionante de material audiovisual de arquivo que traz a figura de Sabotage, entre entrevistas, shows, apresentações na TV e participações no cinema (com direito, nesse último caso, a reveladores registros de making off e ensaios). Ivan 13P aproveita com criatividade esse rico conjunto de imagens e músicas, fazendo com que ele se combine com eficiente dinâmica narrativa junto aos depoimentos de familiares, amigos, parceiros e artistas admiradores de Sabotage. No conjunto total, o documentário não só consegue oferecer uma visão bastante ampla sobre a vida do biografado, como também serve de retrato fiel das questões sociais que circundavam Sabotage (e que serviam como matéria prima de suas canções) e do fértil cenário musical onde ele se enquadrou, com destaque especial para RZO e Instituto.

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