É provável que uma obra como “Para sempre Alice” (2014)
tenha uma espécie de função social importante que transcenda os seus méritos
artísticos. Afinal, dentro do gênero ao qual pertence, o “filme doença”, a
produção dirigida por Richard Glatzer e Wash Westmoreland acaba sendo bem didática
sobre a questão do Mal de Alzheimer, enfocando com detalhes tanto a fase do
diagnóstico como o doloroso processo de desenvolvimento dos sintomas da doença.
Como obra cinematográfica, entretanto, está bem longe de ser considerada uma
experiência satisfatória. Há uma indecisão estética constante permeando a
narrativa – os fatos se sucedem sem o devido peso dramático, apesar do filme
abusar de forma constante de uma considerável de truques emocionais apelativos
como música incidental melosa nos momentos mais “tocantes”, personagens olhando
para o horizonte sugerindo alguma introspecção e diálogos edificantes estilo
autoajuda (com direito, inclusive, a um discurso proferido pela protagonista
Alice para uma plateia de familiares, médicos e outros pessoas afetadas pela
doença). Toda essa concepção formal equivocada faz com que “Para sem Alice”
mais pareça um vídeo institucional sobre o Alzheimer que conta com um estrelado
elenco de Hollywood do que uma produção cinematográfica propriamente dita. E
para aqueles que acham que seria impossível tratar de tal temática sem cair nesse
estilo melodrama barato, recomenda-se o devastador “Amor” (2012), de Michael
Haneke, extraordinária visão metafórica do diretor austríaco Michael Haneke de
uma doença degenerativa como a própria desintegração da moral e da civilidade
da sociedade ocidental.
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