sexta-feira, março 06, 2015

Um gosto de mel, de Tony Richardson ****


O que me motivou a ver “Um gosto de mel” (1961) foi a leitura de uma biografia sobre a banda britânica The Smiths. O filme em questão é citado mais de uma vez como forte referência cultural para as letras da banda. Só que essa produção inglesa acaba transcendendo a mera curiosidade histórica. O tratamento artístico dado pelo diretor Tony Richardson revela singularidades que mesmo nos dias de hoje soam bastante ousadas. A narrativa se estrutura a partir de uma fusão de elementos documentais e de melodrama, tendo uma fluência extraordinária nessa insólita combinação. Num primeiro momento, há a impressão de uma certa aridez estética na forma naturalista com que os personagens e os cenários desolados de Manchester são retratados. Aos poucos, entretanto, tal percepção se revela engenhosamente enganadora, sendo que a encenação e a dinâmica formal apresentam concepções bem criativas e libertárias. Os personagens desenvolvem um carisma magnético na forma com que lidam com seus dilemas e contradições, além das situações da trama causarem expressiva empatia pela forma crua e humana com que são expostas. Richardson consegue um raro equilíbrio entre o sentimentalismo, a melancolia e o amargo realismo.

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