quinta-feira, março 26, 2015

Spring Breakers, de Harmony Korine ****


Para as garotas protagonistas de “Spring Breakers” (2012), o desejo de passar parte das férias na praia se afundando em sexo, drogas e música eletrônica representa embarcar numa outra dimensão dionisíaca em que a vida se resume a prazer e dissipação incessantes. Assim, o diretor Harmony Korine constrói uma obra que parece a cruza improvável entre cacos de “Sem destino” (1969) e “Curtindo a vida adoidado” (1986) juntados de acordo com alguns preceitos estéticos de Terrence Malick. A narrativa pode sugerir algo de linear, mas a verdade é que Korine estrutura tudo como se fosse um sonho delirante ou mesmo uma trip misturada de maconha, cocaína e crack. Para isso, o cineasta adota um formalismo entre o rebuscado e o intuitivo, combinando truques típicos de produções publicitárias com algumas sofisticadas noções estéticas, principalmente quando dissocia audio e imagem, gerando um efeito sensorial desconcertante, impressão essa ampliada pela fotografia cujo colorido espalhafatoso se adequa em tons crepusculares e obscuros. Em vários momentos, a ação come solta em cena embalada por diálogos e monólogos em que os personagens tergiversam, deliram ou divagam e que num primeiro momento parecem não ter qualquer relação com aquilo que está registrado visualmente. Korine detesta a objetividade – tudo no filme é ambíguo, oblíquo, repleto de uma simbologia estranha e fascinante no seu casamento entre sordidez e poesia. Korine filma com paixão o retrato atávico e contraditório de uma sociedade puritana, mas também fascinada por armas, dinheiro, erotismo sacana e Britney Spears.

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