Para as garotas protagonistas de “Spring Breakers” (2012), o
desejo de passar parte das férias na praia se afundando em sexo, drogas e música
eletrônica representa embarcar numa outra dimensão dionisíaca em que a vida se
resume a prazer e dissipação incessantes. Assim,
o diretor Harmony Korine constrói uma obra que parece a cruza improvável entre cacos
de “Sem destino” (1969) e “Curtindo a vida adoidado” (1986) juntados de acordo
com alguns preceitos estéticos de Terrence Malick. A narrativa pode sugerir
algo de linear, mas a verdade é que Korine estrutura tudo como se fosse um
sonho delirante ou mesmo uma trip misturada de maconha, cocaína e crack. Para
isso, o cineasta adota um formalismo entre o rebuscado e o intuitivo,
combinando truques típicos de produções publicitárias com algumas sofisticadas
noções estéticas, principalmente quando dissocia audio e imagem, gerando um
efeito sensorial desconcertante, impressão essa ampliada pela fotografia cujo
colorido espalhafatoso se adequa em tons crepusculares e obscuros. Em vários
momentos, a ação come solta em cena embalada por diálogos e monólogos em que os
personagens tergiversam, deliram ou divagam e que num primeiro momento parecem
não ter qualquer relação com aquilo que está registrado visualmente. Korine
detesta a objetividade – tudo no filme é ambíguo, oblíquo, repleto de uma
simbologia estranha e fascinante no seu casamento entre sordidez e poesia.
Korine filma com paixão o retrato atávico e contraditório de uma sociedade puritana,
mas também fascinada por armas, dinheiro, erotismo sacana e Britney Spears.
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