terça-feira, março 03, 2015

O nascimento de uma nação, de D.W. Griffith ****



Os fatos de ser a obra que é considerada o marco fundamental da linguagem moderna cinematográfica e de trazer como heróis os membros da organização racista Ku Klux Klan poderiam reduzir “O nascimento de uma nação” (2015) a uma mera (mas importante) curiosidade histórica. Ver o filme em questão, entretanto, na tela grande um cinema é uma experiência visceral que transcende fins puramente didáticos. Algumas técnicas rudimentares e limitações tecnológicas, na comparação com os recursos materiais de hoje, podem causar um certo estranhamento e a sensação de algo anacrônico. Ainda sim, a dinâmica narrativa impressa pelo cineasta D.W. Griffith é muito envolvente, aliada a um grande senso estético na concepção visual de sua obra. Mesmo que baseado quase que exclusivamente em planos fixos, há um encanto imagético que impressiona pelo esmero nas composições pictóricas de enquadramentos e nas eficientes trucagens envolvendo sobreposições e fusões. As extraordinárias soluções estéticas de Griffith causam um efeito perturbador para o espectador – a conjunção entre ação e tensão por vezes induz a uma empatia aos “heróis” da trama. Por mais que os conceitos sociais evocados pelo roteiro possam ser questionáveis, é de se convir também que representam os valores de uma época. Nesse sentido, “O nascimento de uma nação” não deixa de oferecer um interessante panorama histórico da formação cultural de um povo, cujas consequências até os dias de hoje encontram ressonância na sociedade ocidental.

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