terça-feira, março 24, 2015

Mapas para as estrelas, de David Cronenberg ****


Relacionar uma temática sobre bastidores de Hollywood com uma formatação de filme de horror não é propriamente uma novidade. Basta lembra do clássico “O crepúsculo dos deuses” (1950) de Billy Wilder. O que há de novo em “Mapas para as estrelas” (2014) é que essa equação recebe as concepções artísticas bizarras e geniais de David Cronenberg. Permanece no filme de forma constante uma atmosfera sombria e doentia, que faz com que a narrativa tenha um caráter de conto gótico e mesmo a elegante direção de fotografia de tons luminosos não consegue esconder esse viés. O espectro da mãe que atormenta a neurótica filha atriz (aparecendo até no meio de uma menage a trois) e a família que é marcada por relações incestuosas são elemento que remetem a esse caráter mais perverso da escola de ultraromantismo. Cronenberg, entretanto, usa tais influências num contexto irônico e perverso, como se quisesse ressaltar que o universo paralelo de vaidades, sexo e drogas dos astros do cinema e daqueles que o cercam obedecesse a regras de conduta caóticas e amorais, em que almas penadas convivem com os vivos e os atormentam sem a menor cerimônia. Esse mórbido jogo de simbolismo entre pecado e culpa pode ser recorrente nos meios de expressão cultural, mas com Cronenberg ganha uma dimensão extraordinária no seu misto de horror e humor negro. A impressão permanente de um ambiente em colapso existencial encontra um tratamento formal meticuloso por parte do cineasta canadense – ele mantém em boa parte da produção a tensão psicológica e a sensação de estranhamento no limite, e quando a violência gráfica irrompe é de forma impactante na sua profusão de brutalidade e sangue. Esse extraordinário senso cinematográfico de Cronenberg consegue também se manifestar na direção de atores, com destaque para as notáveis composições dramáticas de Julianne Moore e Mia Wasikowska.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Moore deveria ter sido indicada por esse filme também.