terça-feira, março 10, 2015

Jardim Europa, de Mauro Baptista Vedia **


A trama e a condução da encenação de “Jardim Europa” (2011) deixam clara a origem teatral do diretor Mauro Baptista Vedia. Ainda que marcada por uma estrutura narrativa realista, a produção traz um caráter de simbolismos bastante forte ao apresentar um roteiro que através do microcosmo de alguns poucos personagens pretende fazer um retrato da relação de conflito entre as classes sociais no Brasil. Dessa forma, o cineasta se vale de uma abordagem mais exagerada e icônica, típica do teatro, na dinâmica que se estabelece entre situações e personagens, fazendo lembrar desde algumas das peças mais emblemáticas de Nelson Rodrigues até aquela atmosfera de melancólica decadência do clássico “Os deuses malditos” (1959). Por vezes, tais escolhas artísticas rendem bons momentos. A seqüência, por exemplo, em que o simplório assalariado Osmar Pampolini (Marcos Cesana) faz uma defesa bem-humorada das “realizações políticas e administrativas” de Paulo Maluf é perversamente engraçada. Além disso, há também algumas cenas em que Vedia consegue extrair uma efetiva atmosfera de angústia ao caracterizar o processo de desagregação moral e afetiva de uma família classe média alta em processo de ruína. Tais aspectos positivos, entretanto, são insuficientes para caracterização “Jardim Europa” como um trabalho satisfatório. No geral, é uma obra cuja aridez formal e a repetição excessiva de algumas ideias temáticas a tornam uma obra cansativa e enfadonha.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Adorei o filme