Por um lado, é de se admirar a persistência da diretora
Marina Person em fazer de “Califórnia” (2015) uma obra de forte cunho autoral.
Dá para sentir em cada fotograma do filme elementos que parecem aludir ao
próprio imaginário pessoal da cineasta – trilha sonora repleta de pérolas do
rock e pop dos anos 70 e 80, conflitos e dilemas típicos das comédias
adolescentes de John Hughes, referências e citações da cultura pop. E as
ambições artísticas de Person para sua produção também são louváveis, ao
procurar oferecer a partir de uma trama de caráter intimista e memorialista uma
perspectiva sócio-política-cultural do Brasil da primeira metade da década de
80, retratando o ambiente dos anos finais da ditadura militar. De certa forma,
é como se a história do despertar da adolescente Estella (Clara Gallo) para os
dramas e complexidades da vida adulta tivessem uma relação de simbolismo com um
país que estava tentando sair das trevas do obscurantismo intelectual e
comportamental. O problema de “Califórnia” é que todas essas boas ideias e
intenções não conseguem se traduzir em uma narrativa envolvente. Na comparação
com outras obras recentes que tiveram a juventude como temática, falta o
lirismo brutal de “O cheiro da gente” (2014), a sensibilidade à flor-da-pele de
“Depois de maio” (2012) e mesmo a graciosidade natural de “Hoje eu quero voltar
sozinho” (2014). A encenação em “Califórnia” é engessada, por vezes beirando o
amador, com as caracterizações dos personagens caindo por vários momentos em
caricaturas constrangedoras, além do roteiro apelar para simplificações banais
e sem graça. Por mais que se tenha simpatia com as mencionadas referências
culturais que permeiam a trama, a impressão é que tais elementos não conseguem
entrar em sintonia com o universo das situações e personagens. Assim, fica
evidente, por exemplo, que o trabalho de direção de arte é por demais
artificioso e sem vida. O que salva “Califórnia” do desastre completo é que
existem algumas poucas sequências em que dá para vislumbrar o que poderia ter
sido o filme se Person tivesse acertado mão na direção – as cenas no quarto de
JM (Caio Horowicz) são pulsantes, dinâmicas e ousadas em seus movimentos,
edição e diálogos, é quase como se fosse um outro filme dentro de “Califórnia”.
Horowicz, aliás, destaca-se de forma disparada no elenco, pois tem uma presença
cênica forte. No mais, ainda que “Califórnia” seja uma obra frustrante em sua
execução, seus poucos e expressivos momentos positivos mostram que Person ainda
é um nome a se prestar atenção.
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