Apesar do exotismo de sua procedência, a produção da Geórgia
“A ilha do milharal” (2014) não chega a ser um bicho de sete cabeças em termos
formais e temáticos. É claro que para aqueles acostumados com os padrões
frenéticos e escapistas de boa parte do que se produz na Hollywood atual a
narrativa lenta e detalhista elaborada pelo diretor George Ovashvili pode para
esquisita e enfadonha. A trama do filme é simples e sem grandes variações em
seu desenvolvimentos e mesmo nas suas viradas, mas guarda em suas entrelinhas
alguns simbolismos que são trabalhados de forma eficiente e até mesmo por vezes
encantadora. Dentro da concepção artística desse trabalho Ovashvili, a
exposição do passar do tempo é essencial na construção dramática. O
passo-a-passo do levantamento de uma plantação de milho em uma pequena ilha
temporária de um rio interiorano, assim como a amostragem do cotidiano de sua
manutenção, é essencial para se dimensionar a carga dos conflitos e dilemas delineados
pelo roteiro. A valorização dos silêncios e ênfase nas expressões e gestuais
dos personagens também são essenciais para a atmosfera de melancolia e mesmo para
a sensação de tragédia iminente e inevitável que pairam de forma constante
sobre “A ilha do milharal”. O rigor dessa abordagem estética e emocional
encontra um complemento acertado na encenação, principalmente por uma direção
de fotografia que consegue captar com uma grandiosidade contida as nuances
visuais dos belos cenários naturais do filme. Se em grande parte da narrativa
predomina essa discrição nas escolhas artísticas de Ovashvili, as sequenciais
finais da tempestade que inunda a ilha e destrói grande parte da plantação de
milho representam uma catarse sensorial impactante capaz de fixar no imaginário
do espectador por um bom tempo.
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