terça-feira, dezembro 01, 2015

A ilha do milharal, de George Ovashvili ***

Apesar do exotismo de sua procedência, a produção da Geórgia “A ilha do milharal” (2014) não chega a ser um bicho de sete cabeças em termos formais e temáticos. É claro que para aqueles acostumados com os padrões frenéticos e escapistas de boa parte do que se produz na Hollywood atual a narrativa lenta e detalhista elaborada pelo diretor George Ovashvili pode para esquisita e enfadonha. A trama do filme é simples e sem grandes variações em seu desenvolvimentos e mesmo nas suas viradas, mas guarda em suas entrelinhas alguns simbolismos que são trabalhados de forma eficiente e até mesmo por vezes encantadora. Dentro da concepção artística desse trabalho Ovashvili, a exposição do passar do tempo é essencial na construção dramática. O passo-a-passo do levantamento de uma plantação de milho em uma pequena ilha temporária de um rio interiorano, assim como a amostragem do cotidiano de sua manutenção, é essencial para se dimensionar a carga dos conflitos e dilemas delineados pelo roteiro. A valorização dos silêncios e ênfase nas expressões e gestuais dos personagens também são essenciais para a atmosfera de melancolia e mesmo para a sensação de tragédia iminente e inevitável que pairam de forma constante sobre “A ilha do milharal”. O rigor dessa abordagem estética e emocional encontra um complemento acertado na encenação, principalmente por uma direção de fotografia que consegue captar com uma grandiosidade contida as nuances visuais dos belos cenários naturais do filme. Se em grande parte da narrativa predomina essa discrição nas escolhas artísticas de Ovashvili, as sequenciais finais da tempestade que inunda a ilha e destrói grande parte da plantação de milho representam uma catarse sensorial impactante capaz de fixar no imaginário do espectador por um bom tempo.

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