Talvez o aspecto mais fascinante no modus operandi do
diretor sérvio Emir Kusturica é a forma com que ele adequa gêneros e clichês
cinematográficos dentro de sua linguagem artística particular. Essa
característica fica bastante evidente em “Quando papai saiu em viagem de
negócios” (1985), uma de suas produções mais estimadas. Num primeiro momento, o
espectador pode até achar que está vendo algo convencional, numa trama que
mistura referências históricas, memorialismo infantil e comentário político.
Aos poucos, entretanto, Kusturica vai envenenando os lugares comuns com uma
encenação vibrante, em que a tensão dramática e a ironia sardônica convivem de
maneira fluida e natural. O academicismo formal em que esse tipo de obra
costuma se basear está lá, principalmente pela vinculação com determinados
fatos históricos importantes da Iugoslávia, mas o fato do protagonista ser uma
criança faz com que a abordagem estética do filme traga algo de mágico e mesmo
delirante na sua atmosfera. Essa oposição de linguagens (naturalista e
estilizada) não é gratuita de acordo com o contexto sócio-político em que se
desenvolve o roteiro – os absurdos do autoritarismo e da burocracia do governo
iugoslavo dos anos 40 por vezes beiram o surreal. Mantendo essa pegada autoral,
Kusturica elaborou ainda melhor esses preceitos formais e temáticos naquela que
é a sua grande obra-prima, “Underground” (1985).
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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