Hoje em dia quando se fala em continuações ou reboots da
franquia “O massacre da serra elétrica” logo se pensa em produções rasteiras e
assépticas destinadas mais a levantar um troco fácil para os seus produtores do
que acrescentar algo de relevante para a série. Sem querer parecer nostálgico,
mas houve uma época em que isso foi diferente e dessa forma mais um capítulo da
saga do maníaco Leatherface era algo realmente digno de nota para os
apreciadores do cinema fantástico. Nesse sentido, “O massacre da serra elétrica
2” (1986) é um exemplar enfático dessa concepção. O diretor Tobe Hooper já
tinha criado uma verdadeira escola dentro do gênero horror com o primeiro filme
lançado em 1974, em que combinava com muita criatividade violência gráfica
explicita, formalismo cru e atmosfera de sordidez e negativismo. Ao retomar a
história e personagens na continuação em questão, mudou sua orientação
artística de forma radical, mas preservando a coerência existencial da obra. Nesse
sentido, é um trabalho que se mostra em perfeita sintonia com o espírito do
melhor que foi feito no âmbito das produções de terror nos anos 80,
principalmente naquela síntese contundente de suspense, horror e humor (vide
obras como “Um lobisomem americano em Londres”, “Evil Dead” e “O soro do mal”).
Há um viés em “O massacre da serra elétrica” que o diferencia bastante desses
outros filmes – por trás de um roteiro repleto de delirantes situações
sangrentas, há um ácido e sutil subtexto político no retrato caricatural que
faz de típicas figuras que habitam o imaginário norte-americano, indo da típica
fúria puritana de um policial alucinado em busca de vingança (Denis Hooper,
evidentemente cheirado em cena) até nojentos e engraçados rednecks psicopatas
(com direito inclusive a um escroto veterano do Vietnã), ou seja, um retrato
nada gentil do sul republicano e reacionário dos Estados Unidos. Junto a uma
intrínseca junção de dinâmica narrativa bem azeitada, encenação alucinada e
ambientação fuleira, acaba se tendo uma legítima pérola cinematográfica
marginal que só melhora com o passar dos anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário