Enquanto “Ausência” (2014) é uma obra que se apresenta como
uma lúcida tese sociológica e falha como cinema, com “O fim e os meios” (2014)
dá para dizer que as coisas se operam de forma contrária. O roteiro do filme de
Murilo Salles se pretende como uma espécie de raio x sobre as estruturas de
poder no cenário político brasileiro contemporâneo, em que mesmo aspectos da
intimidade dos personagens refletem as relações de dominação econômica e
desajustes sociais no Brasil. Os desdobramentos da trama, entretanto, não
conseguem sustentar tais pretensões temáticas, resvalando por vezes em
simplificações e banalidades que não conseguem sintetizar de forma satisfatória
alguns conflitos complexos que são retratados no roteiro. Nesse sentido, não há
a agudeza existencial que deixava o espectador inquieto em “Nome próprio”
(2007), excelente produção anterior dirigida por Salles. Por outro lado, a
encenação concebida pelo cineasta em “O fim e os meios” é tão intensa e fluida
que mesmo as inconsistências da trama não impedem que a narrativa seja
envolvente em sua condução. Salles tem a manha para criar algumas perturbadoras
atmosferas de tensão dramática, sabendo valorizar também as expressões e
gestuais de seus autores com bastante sensibilidade. Por mais que o filme tenha
uma tendência para o caricatural, o misto de sexo, poder e picaretagem que
envolve os personagens vinculam o filme a um pastiche eficiente no gênero
policial permeado por uma atmosfera de sordidez perturbadora.
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