Os filmes do diretor italiano sempre são marcados por um
traço autoral intransferível, trazendo uma espécie de sínteses das obsessões
pessoais e artísticas do cineasta. Dentro dessa concepção se misturam elementos
diversos como política, reminiscências pessoais, ensaios culturais, intimismo,
comentário social e metalinguagem, mas sempre passando por um rigoroso filtro
formal e temático que dá uma coerência existencial admirável para sua
filmografia, independente do gênero no qual Moretti se aventure. Isso tudo fica
bastante evidente em seu trabalho mais recente, “Mia madre” (2015), em que ele
volta ao gênero do melodrama, onde ele já tinha se dado muito bem em “O quarto
do filho” (2001). Na produção em questão, o diretor retoma seus temas que lhe
são mais caros sem que com isso passe a impressão de acomodação. Pelo contrário
– Moretti parece aprofundar seu particular estilo dentro de uma equação
narrativa cada vez mais desconcertante. É como se tivesse mais de um filme
dentro de “Mia madre”. Há aquele plano que mostra o cotidiano de filmagens de
uma obra de caráter social por parte da cineasta Margherita (Margherita Buy),
mostrando os dilemas artísticos da diretora. Por outro lado, tem uma trama
intimista que envolve o tocante drama pessoal da protagonista junto ao irmão Giovanni
(Moretti) que passam por todo o calvário de acompanhar os últimos dias da mãe
moribunda. Além disso, a própria situação dessa matriarca carrega um forte
caráter simbólico no sentido de representar a queda de um humanismo considerado
ultrapassado perante uma ordem capitalista cada vez mais obtusa. E há também as
sequências que mostram as confusões e constrangimentos causados por um
decadente e arrogante ator norte-americano (John Turturro) no set das referidas
filmagens e pelas ruas de Roma, em que as trapalhadas desse personagem parecem
remeter a um humor melancólico tipicamente italiano na linha das produções de
Toto e Mario Monicelli. Moretti junta todas essas narrativas paralelas e lhes
dá uma unidade intrínseca extraordinária, compondo um painel humanista que
navega de forma extraordinária entre a comicidade, o sentimental e a feroz
crítica sócio-política e econômica, tendo por resultado final um filme que
tanto pode ser considerado atemporal pela sua grandeza artística como a síntese
emblemática de uma época conturbada.
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