O roteirista norte-americano Dalton Trumbo não foi um
escritor qualquer na história do cinema dos Estados Unidos. No período em que
foi mais ativo na indústria cinematográfica, destacou-se pela inteligência e
sagacidade de suas histórias, cujos respectivos textos geralmente traziam uma
forte carga de contestação social e política, reflexo de sua ideologia de
esquerda. É claro que tal posicionamento artístico e pessoal lhe trouxe grandes
problemas, principalmente no período em que predominou a “caça às bruxas” de
teor anticomunista da era do Macarthismo, o que fez com que fosse preso e tivesse
de usar de vários subterfúgios para que pudesse continuar trabalhando. A
riqueza da biografia desse emblemático personagem histórico mereceria uma
abordagem mais ousada do que a apresentada em “Trumbo” (2015). O diretor Jay
Roach usa recursos formais convencionais em demasia – a narrativa é linear,
direção de arte e fotografia são marcadas pela assepsia estética, a trilha
sonora melosa pontua de forma burocrática as passagens mais edificantes, a
caracterização da maioria dos personagens é superficial. Não chega a ser
exatamente enfadonho, por vezes é até agradável essa formatação, mas muito
longe de fazer com que “Trumbo” se mostre como uma obra inquietante ou mesmo
memorável. No final das contas, vale ver o filme mais pelo seu caráter
informativo da história do cinema e mesmo da política nos Estados Unidos, ainda
que haja as esperadas simplificações e reduções caricaturais de situações e
personagens. Para aqueles que desejarem uma visão mais aprofundada dos
bastidores de Hollywood e sua relação com a sociedade, vale muito mais a pena assistir
ao magnífico “O aviador” (2004) de Martin Scorsese.
2 comentários:
Eu achei um bom filme, mas comparar com O Aviador dai já é covardia
Não entendo porque dão tanto valor a O Aviador, um filme que simplesmente ignora qualquer aspecto controverso da vida de Howard Hughes e transforma um homem cuja fortuna dependia de contratos pra lá de generosos com o governo, fechados em condições suspeitas pra dizer o mínimo, num self-made man e num super-herói saído os péssimos livros da pseudo-filósofa Ayn Rand.
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