quinta-feira, fevereiro 04, 2016

Trumbo, de Jay Roach **1/2

O roteirista norte-americano Dalton Trumbo não foi um escritor qualquer na história do cinema dos Estados Unidos. No período em que foi mais ativo na indústria cinematográfica, destacou-se pela inteligência e sagacidade de suas histórias, cujos respectivos textos geralmente traziam uma forte carga de contestação social e política, reflexo de sua ideologia de esquerda. É claro que tal posicionamento artístico e pessoal lhe trouxe grandes problemas, principalmente no período em que predominou a “caça às bruxas” de teor anticomunista da era do Macarthismo, o que fez com que fosse preso e tivesse de usar de vários subterfúgios para que pudesse continuar trabalhando. A riqueza da biografia desse emblemático personagem histórico mereceria uma abordagem mais ousada do que a apresentada em “Trumbo” (2015). O diretor Jay Roach usa recursos formais convencionais em demasia – a narrativa é linear, direção de arte e fotografia são marcadas pela assepsia estética, a trilha sonora melosa pontua de forma burocrática as passagens mais edificantes, a caracterização da maioria dos personagens é superficial. Não chega a ser exatamente enfadonho, por vezes é até agradável essa formatação, mas muito longe de fazer com que “Trumbo” se mostre como uma obra inquietante ou mesmo memorável. No final das contas, vale ver o filme mais pelo seu caráter informativo da história do cinema e mesmo da política nos Estados Unidos, ainda que haja as esperadas simplificações e reduções caricaturais de situações e personagens. Para aqueles que desejarem uma visão mais aprofundada dos bastidores de Hollywood e sua relação com a sociedade, vale muito mais a pena assistir ao magnífico “O aviador” (2004) de Martin Scorsese.

2 comentários:

Marcelo Castro Moraes disse...

Eu achei um bom filme, mas comparar com O Aviador dai já é covardia

Anônimo disse...

Não entendo porque dão tanto valor a O Aviador, um filme que simplesmente ignora qualquer aspecto controverso da vida de Howard Hughes e transforma um homem cuja fortuna dependia de contratos pra lá de generosos com o governo, fechados em condições suspeitas pra dizer o mínimo, num self-made man e num super-herói saído os péssimos livros da pseudo-filósofa Ayn Rand.