O wuchia, espécie de junção dos gêneros aventuras e artes
marciais repleto de trucagens para simular golpes e malabarismos que vão além
do realismo, é um estilo cinematográfico característico da China e que nos
últimos anos vem recebendo um tratamento formal e temático que o torne mais
“artístico” e palatável para as plateias ocidentais. Dentro dessa abordagem,
houve obras que se destacaram nesse revisionismo estético e se tornaram
referências, como “O tigre e o dragão” (2000), “Herói” (2002) e “O clã das
adagas voadoras” (2003). Se tais filmes mostraram uma grande profusão de
coreografias espetaculares de lutas e tramas marcadas por um certo dramatismo
mais derramado, “A assassina” (2015) trafega por caminhos diferenciados nessa
releitura do wuchia. O diretor Hou Hsiao-Hsine adota uma abordagem mais sutil e
reflexiva, em que as cenas de ação são mais econômicas na quantidade em que
aparecem na trama, mas sempre com uma beleza plástica e violência gráfica memoráveis.
Além disso, o cineasta valoriza bastante a atmosfera e a composição cênica das
sequências intimistas. Nesse sentido, é de se reparar o uso frequente de
planos-sequências fixos, com a câmera filmando sob véus ou pelas frestas de
portas e janelas, dando ao filme um caráter entre o irreal e o onírico. Mesmo o
roteiro apresenta detalhes insólitos, em que a trama repleta de intrigas de
poder ganha uma conotação metafísica e repleta de simbolismos fascinantes. Todos
esses detalhes narrativos fazem de “A assassina” uma obra de estranho encanto e
que leva o wuchia por caminhos autorais bem distantes dos padrões habituais do
cinema de ação contemporâneo.
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