quinta-feira, maio 19, 2016

Um pombo pousou num galho refletindo sobre a existência, de Roy Andersson ***1/2

Numa primeira impressão, dá para dizer que “Um pombo pousou num galho refletindo sobre a existência” (2014) faz pensar num insólito cruzamento do rigor estético e cerebralismo de Ingmar Bergman com o gosto pelo surrealismo irônico de Luis Buñuel. Tal mistura pode parecer indigesta para os desavisados, mas o diretor sueco Roy Andersson consegue dar uma unidade formal e temática expressiva para o seu filme. Mesmo a estrutura narrativa, composta basicamente de episódios cômicos e/ou delirantes filmados em planos-sequência fixos, aparenta um certo tom aleatório. Aos poucos, entretanto, surge uma espécie de encadeamento existencial entre tais sketches, compondo uma obra de coerência artística notável. Andersson se livra sempre das facilidades emotivas e estéticas, primando de maneira constante pelo distanciamento sentimental, por uma composição cênica que se alterna habilmente entre a austeridade e o barroco e a atmosfera melancólica e sardônica. Nesses elementos narrativos, aflora uma particular visão humanista sobre a sociedade ocidental contemporânea, colocando Andersson num patamar autoral diferenciado no atual panorama cinematográfico.

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