Numa primeira impressão, dá para dizer que “Um pombo pousou
num galho refletindo sobre a existência” (2014) faz pensar num insólito
cruzamento do rigor estético e cerebralismo de Ingmar Bergman com o gosto pelo
surrealismo irônico de Luis Buñuel. Tal mistura pode parecer indigesta para os desavisados, mas o
diretor sueco Roy Andersson consegue dar uma unidade formal e temática
expressiva para o seu filme. Mesmo a estrutura narrativa, composta basicamente
de episódios cômicos e/ou delirantes filmados em planos-sequência fixos, aparenta
um certo tom aleatório. Aos poucos, entretanto, surge uma espécie de
encadeamento existencial entre tais sketches, compondo uma obra de coerência
artística notável. Andersson se livra sempre das facilidades emotivas e estéticas,
primando de maneira constante pelo distanciamento sentimental, por uma composição
cênica que se alterna habilmente entre a austeridade e o barroco e a atmosfera
melancólica e sardônica. Nesses elementos narrativos, aflora uma particular visão
humanista sobre a sociedade ocidental contemporânea, colocando Andersson num
patamar autoral diferenciado no atual panorama cinematográfico.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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