O cinema do diretor brasileiro Walter Lima Jr. sempre foi
marcado por um tom passadista, algo como um estilo que funde literatura,
memorialismo e mesmo um anacronismo de estranho encanto. “Através das sombras” (2015)
é um título bem sintomático do particular viés artístico do cineasta. Adaptando
o clássico literário fantástico “A volta do parafuso”, escrito por Henry James,
Lima Jr. situa a obra no interior de São Paulo do início do século XX, mas
mantém a essência gótica do livro original. O filme trabalha com elementos
narrativos tradicionais, como direção de arte requintada, sutil atmosfera de
terror psicológico e atuações sóbrias do elenco. Por outro lado, tais aspectos
formais e temáticos não conseguem formar um todo narrativo convincente no
sentido de que a obra consiga produzir uma tensão efetiva capaz de gerar para o
espectador aquela síntese entre atração e repulsa necessária para o gênero
fantástico. Faltou uma pegada mais contundente e ousada, que fazia, por
exemplo, com que “A ostra e o vento” (1997), extraordinária produção de cunho
fantástico dirigida por Lima Jr., fosse uma obra tão memorável e perturbadora.
Ainda assim, “Através da sombra” é um trabalho de peso no atual panorama do
cinema nacional e mantém a coerência autoral de qualidade de seu diretor.
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