É perceptível na narrativa de “O preço da fama” (2013) uma
sutil abordagem conceitual por parte do diretor Xavier Beauvois. Ao contar a
história baseada em fatos reais de dois pés-rapados que roubaram o corpo de
Charlie Chaplin poucos dias depois de seu enterro, o filme se utiliza de alguns
maneirismos formais e temáticos que aludem ao universo artístico do próprio Chaplin.
Além de serem inseridas na obra alguns trechos antológicos de clássicas
produções estreladas pelo “Carlitos”, algumas sequências da produção evocam uma
atmosfera melancólica e anacrônica típica dos melhores trabalhos de Chaplin,
podendo-se perceber também sutis questionamentos sociais que por vezes o
roteiro evoca. Nesse sentido, não é à toa que parte da ação se desenrola em um
circo, com atenção especial para números ingênuos de palhaços. Essa ambientação
nostálgica e engajada do filme revela uma conexão existencial e artística ainda
com uma certa tradição da comédia italiana, principalmente referente a alguns
exemplares emblemáticos dirigidos por Mario Monicelli. Talvez essa utilização
de referências e citações passadistas possa parecer ter um teor datado em um
primeiro momento, mas com o desenrolar da narrativa acaba revelando um caráter
desafiador diante de uma sociedade contemporânea marcada pela assepsia cultural
apelidada de “bom gosto” e pelo mercantilismo barato disfarçado de modernidade.
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