segunda-feira, maio 02, 2016

O preço da fama, de Xavier Breauvois ***

É perceptível na narrativa de “O preço da fama” (2013) uma sutil abordagem conceitual por parte do diretor Xavier Beauvois. Ao contar a história baseada em fatos reais de dois pés-rapados que roubaram o corpo de Charlie Chaplin poucos dias depois de seu enterro, o filme se utiliza de alguns maneirismos formais e temáticos que aludem ao universo artístico do próprio Chaplin. Além de serem inseridas na obra alguns trechos antológicos de clássicas produções estreladas pelo “Carlitos”, algumas sequências da produção evocam uma atmosfera melancólica e anacrônica típica dos melhores trabalhos de Chaplin, podendo-se perceber também sutis questionamentos sociais que por vezes o roteiro evoca. Nesse sentido, não é à toa que parte da ação se desenrola em um circo, com atenção especial para números ingênuos de palhaços. Essa ambientação nostálgica e engajada do filme revela uma conexão existencial e artística ainda com uma certa tradição da comédia italiana, principalmente referente a alguns exemplares emblemáticos dirigidos por Mario Monicelli. Talvez essa utilização de referências e citações passadistas possa parecer ter um teor datado em um primeiro momento, mas com o desenrolar da narrativa acaba revelando um caráter desafiador diante de uma sociedade contemporânea marcada pela assepsia cultural apelidada de “bom gosto” e pelo mercantilismo barato disfarçado de modernidade.

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