Glauber Rocha não é exatamente uma unanimidade. Ainda que
tenha vários apreciadores de seus filmes, há um número considerável de
detratores que o consideram pretensiosa, chato e superestimado. No meio dessa
divergência de opiniões, entretanto, é inegável que o cineasta baiano seja um
dos nomes mais relevantes da história do cinema nacional, pelo menos em termos
artísticos e existenciais. Isso fica evidente, por exemplo, nos vários
documentários tendo ele como protagonista que foram lançados após a sua morte. “Cordilheiras
do mar: A fúria do fogo bárbaro” (2014) é mais um exemplar dessa tendência, mas
está longe de ser apenas mais um dentro dessa lista. Isso porque Glauber Rocha,
além de cineasta personalíssimo, foi também pensador e orador brilhante, com
visões e discursos versando com grande desenvoltura e conhecimento de causa
sobre cinema, cultura e política. E é justamente nesse último ponto que se
concentra o foco principal do documentário concebido por Geneton Moraes Neto. A
produção dá vazão ao particular olhar de Glauber sobre o contexto
histórico-político em que o Brasil estava inserido entre meados dos anos 70 e
início dos anos 80, em pleno processo da “abertura gradual” promovida pelos
generais Geisel e Golbery, mostrando ainda as duras consequências que ele
sofreu ao emitir suas inesperadas declarações de simpatia às atitudes dos
militares mencionados. A complexidade dessa situação é abordada com
criatividade e sensibilidade por parte de Geneton, que combina de maneira
eficiente depoimentos, imagens de arquivos e encenações vigorosas de textos de
Glauber, fazendo com que o espectador seja jogado dentro do perturbador
turbilhão de ideias e conceitos que era a mente do genial cineasta.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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