“Sem destino” (1969) é considerada como a obra fundamental
do cinema a marcar o movimento da contracultura nos anos 60. A obra-prima de
Denis Hopper ajudou a definir um estilo mais libertário de filmar e também uma
abordagem temática contestadora dos valores e preconceitos pequeno-burgueses da
sociedade ocidental, além de ajudar a construir o mito da estrada como uma
espécie de reflexo de questionamentos existenciais. Ainda que mais obscura, a
produção norte-americana “Corrida sem fim” (1971) aprofunda ainda mais esses
preceitos artísticos de “Sem destino”. O diretor Monte Hellman delineia a sua narrativa
de forma minimalista – em contraponto às corridas alucinadas que permeiam a
trama, os “bastidores” que às envolvem tem uma caracterização dramática
contemplativa e melancólica, enfatizando silêncios e diálogos algo elípticos. A
estética na concepção visual obedece a uma estranha síntese entre o clássico e
a concisão, em que direção de fotografia investe em enquadramentos que tanto
dão uma ideia de imensidão épica das paisagens interioranas dos Estados Unidos
quanto de melancolia e desolação, como se fosse uma espécie de atualização
desolada dos faroestes de John Ford. Tal moldura formal revela uma sintonia
extraordinária com o sutil subtexto do roteiro que enfatiza a sensação de
inadequação e impossibilidade de aceitação das regras de convívio social por
parte dos personagens desajustados que povoam a trama. Aliás, as atuações icônicas
de James Taylor, Dennis Wilson e Warren Oates nos papeis de tais figuras
outsiders representam outro ponto alto de verdadeira pérola escondida da
filmografia norte-americana.
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