O diretor francês Alexandre Aja é um dos nomes mais
interessantes a terem surgidos no panorama mundial do cinema fantástico nos
últimos anos. Sua filmografia é baseada numa síntese artística bastante pessoal
e marcante, combinando grafismo exagerado, senso narrativo preciso e atmosferas
entre o doentio e o delirante, vide obras memoráveis como “Alta tensão” (2003),
“Viagem maldita” (2006) e “Piranha 3D” (2010). Em sua obra mais recente, “A
nona vida de Louis Drax” (2015), Aja mantém a sua marca autoral e ainda envereda
por uma insólita recriação do suspense psicológico característico de algumas
produções de Alfred Hitchcock (principalmente o clássico “Quando fala o coração”)
sob um prisma de conto fabular à maneira de Tim Burton e Guillermo Del Toro.
Essa junção de elementos estéticos diversos acaba tendo um resultado final
bastante coeso. A trama é algo rocambolesca, repleta de flashbacks e alternando
inclusive planos dimensionais (o real, o imaginário e o onírico), mas Aja
consegue dar uma unidade impressionante e nada confusa dentro desses universos
temporais e existenciais paralelos. Os elementos psicanalíticos podem parecer
manjados num primeiro momento ao versarem sobre pulsões homicidas, desejos
sexuais difusos, o mar como símbolo da segurança materna e mitomania, mas com o
tempo eles acabam se revelando funcionais e intrigantes, ainda mais quando se
integram ao apuro visual expressivo de Aja e a sua dinâmica narrativa que emula
uma verdadeira jornada dentro de um pesadelo úmido e sombrio. Dentro dessa
lógica artística peculiar e marcada pela morbidez romântica, o cineasta também
acerta na forma com que dirige o seu elenco, de quem arranca algumas composições
dramáticas antológicas, com destaque para a caracterização meio alucinada do
garoto Aiden Longworth no papel título e para atuação no estilo “loira
enigmática e fatal” de Sarah Gandon (e que faz lembrar algumas personas
inesquecíveis nessa linha criadas por Hitchcock).
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