segunda-feira, outubro 31, 2016

A nona vida de Louis Drax, de Alexandre Aja ***1/2

O diretor francês Alexandre Aja é um dos nomes mais interessantes a terem surgidos no panorama mundial do cinema fantástico nos últimos anos. Sua filmografia é baseada numa síntese artística bastante pessoal e marcante, combinando grafismo exagerado, senso narrativo preciso e atmosferas entre o doentio e o delirante, vide obras memoráveis como “Alta tensão” (2003), “Viagem maldita” (2006) e “Piranha 3D” (2010). Em sua obra mais recente, “A nona vida de Louis Drax” (2015), Aja mantém a sua marca autoral e ainda envereda por uma insólita recriação do suspense psicológico característico de algumas produções de Alfred Hitchcock (principalmente o clássico “Quando fala o coração”) sob um prisma de conto fabular à maneira de Tim Burton e Guillermo Del Toro. Essa junção de elementos estéticos diversos acaba tendo um resultado final bastante coeso. A trama é algo rocambolesca, repleta de flashbacks e alternando inclusive planos dimensionais (o real, o imaginário e o onírico), mas Aja consegue dar uma unidade impressionante e nada confusa dentro desses universos temporais e existenciais paralelos. Os elementos psicanalíticos podem parecer manjados num primeiro momento ao versarem sobre pulsões homicidas, desejos sexuais difusos, o mar como símbolo da segurança materna e mitomania, mas com o tempo eles acabam se revelando funcionais e intrigantes, ainda mais quando se integram ao apuro visual expressivo de Aja e a sua dinâmica narrativa que emula uma verdadeira jornada dentro de um pesadelo úmido e sombrio. Dentro dessa lógica artística peculiar e marcada pela morbidez romântica, o cineasta também acerta na forma com que dirige o seu elenco, de quem arranca algumas composições dramáticas antológicas, com destaque para a caracterização meio alucinada do garoto Aiden Longworth no papel título e para atuação no estilo “loira enigmática e fatal” de Sarah Gandon (e que faz lembrar algumas personas inesquecíveis nessa linha criadas por Hitchcock).

Nenhum comentário: