terça-feira, outubro 11, 2016

Viva a França!, de Christian Carion **1/2

É curioso como algumas obras ganham uma conotação diferenciada em virtude do período em que são lançadas. O atual crescimento mundial da xenofobia decorrente dos grandes fluxos migratórios provocados por conflitos étnicos e políticos faz com que “Viva a França!” (2015), ainda que verse sobre fatos que se sucederam durante a 2ª Guerra Mundial, provoque uma reflexão sobre a temática do preconceito e do seu uso político ao narrar a história da população de uma cidade do interior da França que é obrigada a abandonar seus lares e perambular por estradas e trilhas em fuga dos nazistas que recém invadiram o seu país. A produção dirigida por Christian Carion está bem longe de ser um trabalho excepcional em termos de linguagem cinematográfica, apostando numa narrativa bastante convencional, ainda que correta, e num roteiro de fortes traços melodramáticos que beira o novelesco. Mesmo a trilha sonora do veterano Enio Morricone se rende por vezes a clichês melosos (os temas bem mais expressivos no também recente “Os oito odiados” mostra que o velho mestre ainda é capaz de surpreender). Por outro lado, o elenco de atuações seguras e sutis conseguem compensar a abordagem artística um tanto mofada de Carion. No mais, resta à “Viva a França!” a já mencionada possibilidade de fazer sua plateia refletir sobre os estranhos e hipócritas descaminhos da sociedade ocidental na presente conjuntura sócio-política.

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